Donald Trump fez seu primeiro discurso no Congresso esta semana. E que discurso! Falou como um líder, foi firme e direto, mas usou tom agregador e soube se portar como alguém que respeita as instituições republicanas. A fase da campanha acabou, e o “bufão” populista deu lugar ao estadista.
Sua agenda é a mesma, porém. A essência de sua fala permaneceu inalterada. Mas mudou a postura. Demonstrou mais humildade e seriedade, até porque sabe que, a partir de agora, precisa do apoio do Congresso para aprovar suas reformas. E são muitas.
Endurecer na questão da imigração, por exemplo. Trump está coberto de razão quando fala em filtrar melhor os imigrantes com base na meritocracia, como fazem Canadá e Austrália. É inaceitável que o pagador de impostos tenha de sustentar imigrantes. É preciso maior cuidado com a segurança também. Imigrantes que odeiam tudo aquilo que a América representa simplesmente não devem ser tolerados. É preciso resgatar o respeito às leis e aos valores culturais americanos.
Esse foco nacionalista de “Buy America” ou de contratar só americanos não é eficiente do ponto de vista econômico
Na economia, a visão de Trump gera mais controvérsia, pois adota um viés mercantilista. Já escrevi nesse espaço que o protecionismo comercial é seu calcanhar de Aquiles. Esse foco nacionalista de “Buy America” ou de contratar só americanos não é eficiente do ponto de vista econômico, como todo liberal sabe.
Mas é preciso ter em mente que sua estratégia é geopolítica, e que seu alvo principal é a China, que está longe de representar o ícone do capitalismo liberal. Se essa tática de confronto vai funcionar, isso é duvidoso. Mas Trump não está errado em denunciar as manipulações chinesas e de outros países, como o próprio Brasil, que sobretaxam produtos americanos e querem depois se aproveitar do enorme mercado interno do país.
Além disso, ele quer reduzir impostos e simplificar burocracia, o que é sempre louvável. E tem um programa pesado de investimento em infraestrutura, que pode ou não dar certo, dependendo do grau de participação da iniciativa privada.
Sobre saúde, Trump foi perfeito ao condenar o Obamacare, com intervenção indevida do Estado, e defender mais competição no setor de seguros, já que o modelo atual encarece muito o preço dos remédios. Em educação ele também acertou na veia, ao pregar o voucher, a charter school ou mesmo o homeschooling, garantindo a liberdade individual de escolha e reconhecendo que os pais, não o Estado, são os soberanos.
Os policiais e os militares foram bastante enaltecidos em seu discurso, e o ponto alto foi quando a viúva de um fuzileiro naval foi ovacionada em respeito aos serviços prestados por seu marido, morto em combate ao terrorismo. Ela foi às lágrimas e quase todos aplaudiram muito, à exceção de alguns democratas insensíveis. A prioridade em combater o crime dentro de casa e o terror pelo mundo, sem medo de chamar o inimigo – “radicalismo islâmico” – pelo nome, ficou bem evidente.
A fala foi tão boa que até mesmo seus opositores reconheceram. Pesquisas feitas pela CNN, que Trump chama de “fake news” por causa da escancarada torcida partidária, mostram que a imensa maioria aprovou o discurso, acha que as medidas apontam na direção certa e saíram mais otimistas depois.
Trump, agora, precisa agir rápido. Nos primeiros 200 dias de governo deve ser capaz de aprovar as principais reformas e construir seu legado. Conta com a maioria republicana no Congresso, mas também deverá persuadir adversários, congressistas patriotas que poderão colocar os interesses nacionais acima dos partidários.
Como o próprio presidente disse, todos os americanos compartilham um destino comum enquanto nação. E sua prioridade é a América, pois ele foi eleito por americanos para governar para americanos. Que faça a América grande novamente, então!
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