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Prepare-se para uma surpresa: o Twitter, ou X, como Elon Musk passou a chamar sua rede social, continuou firme e forte no Brasil, apesar dos esforços do ministro Alexandre de Moraes, do STF, para bloqueá-lo. Parece que a tentativa de censura não foi tão eficaz assim. Vamos aos números: em levantamento feito pelo FGV/CEMD, o tráfego do X caiu apenas 10% entre agosto e setembro. Enquanto isso, o Threads, que deveria ser o "novo Twitter", despencou incríveis 30%. Alguém aí já ouviu falar de "tiro pela culatra"?
Em setembro, o o Twitter ou X teve 900 milhões de visitas no Brasil, enquanto o Threads, coitado, mal chegou aos 7 milhões de acessos. Esses números mostram que o X ou Twitter ainda é duas ordens de magnitude maior que seu concorrente no Brasil. E não venha me dizer que é só pelo navegador, porque os dados do Sensor Tower mostram que, mesmo no app, o X caiu apenas algumas posições no ranking de acessos. Antes, ocupava a posição 108, e agora está na 127. Ou seja, o brasileiro continua firme no X, mesmo que em silêncio.
No fim das contas, o brasileiro mostrou que sua veia resistente à censura esteve mais viva do que nunca. Seja por resistência política, descrença na eficácia do estado ou razões econômicas
No dia 8 de outubro, foi anunciado que Alexandre liberou o Twitter ou X para nós, brasileiros. O termo de busca “Twitter” teve pico de buscas nesse dia, e uma das buscas mais feitas era “meu twitter não voltou”, mostrando a ansiedade em acessar a plataforma pelos usuários.
Tivemos, segundo levantamento feito pelo Buzzmonitor, em menos de 14 horas, quase 2 mil posts sobre o assunto no Twitter. Mesmo enquanto o bloqueio ainda perdurava, um dos posts mais visualizados era do senador Marcos do Val (@marcosdoval), com 12,7 mil visualizações. Essa conta deveria estar bloqueada desde Junho de 2023, por supostas ligações sobre os protestos de 8/01 em Brasília. Como se vê, foi grande a resistência e o número de visualizações em posts supostamente inacessíveis em uma rede social que deveria estar bloqueada, sob pena de multa.
A resistência foi também feita por pessoas comuns. Eli Vieira, jornalista e sobrevivente do bloqueio, afirma que Elon Musk estava certo em resistir às ordens de Moraes, que, segundo ele, violam o Marco Civil da Internet. "Isso é censura prévia", diz Eli, que continuou postando livremente e até recomendou o uso de VPN. Parece que a resistência não foi só política, mas também uma questão de cidadania. Ele ainda destaca que os inquéritos secretos capitaneados por Moraes são inconstitucionais e minam o império da lei no Brasil.
Outros usuários também continuaram ativos, alegando que não há legislação que os impeça. "Eu diria 'restrição de acesso ao Twitter', porque não há lei que proíba o acesso, né?", comenta o anônimo @siegnant, mostrando que a resistência também veio da descrença na eficácia do Estado em controlar os acessos no Brasil.
Já a conta @madeinbajor, que oferece conselhos pessoais, viu sua renda cair pela metade, mas ainda se manteve na plataforma por necessidade econômica. Antes do bloqueio, a conta conseguia entre 15 milhões e 20 milhões de visualizações em semanas boas. Hoje, no máximo 2 milhões. A monetização, que chegava a R$ 350 por mês, agora caiu pela metade. Com o desbloqueio ela espera recuperar a renda perdida neste mês de setembro. Para muitos no Brasil, o Twitter/X não é apenas uma rede social, mas uma fonte de renda.
No fim das contas, o brasileiro mostrou que sua veia resistente à censura esteve mais viva do que nunca. Seja por resistência política, descrença na eficácia do Estado ou razões econômicas, o Twitter/X continuou sendo um espaço de expressão e conexão.
Lilian Carvalho é coordenadora do Centro de Estudos em Marketing Digital da FGV-EAESP.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos