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Conservacionista ou não, para qualquer pessoa mostra-se desafiador pensar em justificativas que fundamentem o novo ímpeto pela abertura de uma estrada a partir de um significado prático mais relevante. Não existe razão para cortar ao meio o Parque Nacional do Iguaçu com base em argumentos sociais ou econômicos. Trata-se de uma situação pontual e inexpressiva, que constrange qualquer tentativa lúcida que tente explicar o movimento em curso.

No entanto, as sucessivas demonstrações de arrogância e falta de bom senso do Legislativo – via de regra com amplo amparo de governos e setores empresariais –, desafiando praticamente qualquer impedimento no caminho do "desenvolvimento", podem ajudar a explicar este perigoso fenômeno de porteira escancarada que estamos vivendo em nosso país. É evidente a sensação de poder absoluto que, em especial, o Congresso Nacional vem assumindo, sem, no entanto, garantir suficiente racionalidade nas discussões que são trazidas à luz de deputados e senadores.

Se por um lado a autonomia dos poderes é uma conquista de nossa sociedade e do respeito às decisões dos representantes do povo, um sinal de que a democracia está plenamente efetivada, o escárnio explicitado por uma prática recorrente de troca de favores e acordos explícitos, sem qualquer consistência técnica ou moral, não pode ser admitido por uma sociedade que tenha uma base de princípios minimamente coerente.

De governos que dividem cargos a esmo para poder dominar politicamente o Legislativo a deputados e senadores que assumem, sem qualquer constrangimento, cargos de representantes de interesses que não precisam ter apoio popular nenhum para serem validados, seguimos caminhando para uma situação que não pode resultar em boa coisa. Existe uma crise moral séria por trás de tudo isso, que se mantém velada possivelmente por causa da vacina de alienação que afeta a maioria de nós.

A volta da discussão sobre a medíocre questão da Estrada do Colono coloca em pauta muito mais uma demonstração de domínio efetivo e completo de um estado de imoralidade que não pretende abrir espaços para qualquer tipo de enfrentamento do que, efetivamente, uma causa com algum valor social. As alegações demagógicas e recorrentes em pauta são um insulto à inteligência e uma pá de cal na luta pelo bem comum no campo da conservação.

Seremos capazes de manter nossa boa energia em prol do interesse público em nossas atividades diárias assimilando situações recorrentes desta natureza? Ou estamos diante de uma questão inegociável?

Clóvis Borges, médico veterinário e mestre em Zoologia pela UFPR, é diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS).

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