Uma das premissas mais importantes que distinguem a universidade desde a sua criação é sua vocação para o trabalho em rede. Condição mandatória num mundo intercultural, tanto o ensino como a pesquisa devem passar obrigatoriamente pelo compartilhamento interinstitucional. Trabalhar em rede, portanto, é parte da essência do ente universitário.
Para o cumprimento dessa missão, porém, em especial quando ela tem a ver com inovação tecnológica e o desenvolvimento socioeconômico de uma região, é indispensável abarcar o círculo virtuoso da tripla hélice, “baseado na perspectiva de uma interação sinérgica entre a academia, o setor produtivo e o governo” conforme escreveu recentemente nesta Gazeta do Povo o reitor da UFPR, Zaki Akel Sobrinho, quando lançou o desafio à UTFPR, à Universidade Positivo e à PUCPR para, em conjunto, formalizarmos o “quadrilátero acadêmico” de Curitiba.
Entendo que o “quadrilátero” proposto aponta para a construção de um ecossistema institucional formado pelas quatro universidades coirmãs de Curitiba, as quais já manifestaram sua disposição em somar suas competências num trabalho partilhado, colocando-as à disposição do setor produtivo local, nacional e internacional para, em conjunto com o segmento governamental, buscar soluções inovadoras para os grandes desafios que o desenvolvimento do Paraná e do Brasil demanda. Eis a receita para a tripla hélice funcionar de acordo com o preconizado pelo reitor Akel.
É hora de somar esforços, independentemente da origem pública, privada ou comunitária das instituições.
Por um lado, para se desenvolver uma região, é indispensável a geração ou a busca de tecnologia adequada à realidade. Esta primeira etapa do processo, ao menos no Brasil, cabe à universidade. É preciso considerar que aqui a maior parte dos doutores – mais de 70% do total – está concentrada nas universidades, com reduzida presença nas empresas, situação inversa àquela dos países desenvolvidos. Não é outra a razão de mais de 90% de toda a pesquisa no país acontecer no contexto universitário.
Por outro lado, é na empresa que a pesquisa com conteúdo tecnológico, desenvolvida na universidade, pode e deve ser transformada em produtos com alto valor agregado, como novos equipamentos, novos fármacos, novos processos. Em boa parte dos casos trata-se de uma etapa na qual a universidade continua presente, condição já prevista na legislação. É quando acontece a inovação. A inovação é, por isso, a ponte entre a tecnologia (academia) e o mercado. Indústrias high tech são atraídas, empregos diferenciados são criados, patentes são registradas, exportações de alto teor tecnológico acontecem – como no caso do agronegócio – e assim por diante.
Essas são exigências da era do conhecimento. Se a sociedade, em especial os órgãos governamentais que planejam todo o processo, não entenderem que conhecimento e desenvolvimento caminham lado a lado, inseparáveis, o país continuará acomodado, apostando em produtos primários, com baixo teor tecnológico agregado e com todos os riscos que isso representa. A sociedade contemporânea espera da universidade muito mais que publicações, por maior que seja seu impacto. Ela conta com o seu engajamento na busca de soluções que se traduzam em efetivo bem-estar e desenvolvimento econômico e social. Infelizmente, embora um sistema de pesquisa sólido e bem estruturado seja indispensável para o desenvolvimento do país, como é o nosso caso, ele, de forma isolada, não consegue produzir inovação. Esta é a parte que falta acontecer no Brasil. E Curitiba poderá ser o bom exemplo. Já há casos animadores pelo país afora.
Por isso, considero este um desafio muito bem-vindo e que deve ser aceito por todos os parceiros mencionados, além de outros que queiram também aderir. É hora de somar esforços, independentemente da origem pública, privada ou comunitária das instituições. Todos estamos sendo convidados pela instituição decana do Paraná para uma nobre e irrecusável missão.
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