Ouça este conteúdo
Políticos e imprensa “progressistas” estão usando a pandemia do coronavírus para cantar as glórias das suas plataformas de “governo grande”. Seja o “Medicare para todos” do senador Bernie Sanders, textos louvando a resposta que a China ditatorial deu à crise, ou pedidos por mais agências federais e políticas de renda mínima universal baseadas em expansão da dívida, o “governo grande” como tábua de salvação nessa crise sanitária está na moda mais uma vez.
Mas não vamos nos iludir: um governo maior, ou pelo menos um que mantenha suas burocracias atrasadas e emperradas, jamais pararia esse vírus. Pior: ele aumentaria o perigo.
Um Centro para Controle de Doenças (CDC) com mais poderes teria ajudado no caso do coronavírus que causa a Covid-19? Provavelmente não. O orçamento da unidade de Saúde Global do CDC, que monitora pandemias, aumentou de US$ 494 milhões no ano fiscal de 2019 para US$ 570 milhões no ano fiscal de 2020, um aumento substancial nos recursos do órgão desde que foi criado. Nos anos fiscais de 2016 e 2017, o orçamento total do CDC já era 7% maior do que havia sido nos governos de Barack Obama. Mas nada disso fez com que o CDC se tornasse subitamente mais ágil e efetivo, como nossa crise atual de saúde pública está mostrando. Não podemos cometer o erro de dar como certo que mais dinheiro tornará uma organização mais eficiente; com frequência, acontece o contrário. Pergunte ao nosso sistema de escolas públicas.
E então há aqueles que dizem que a as medidas “autoritárias” de repressão adotadas na China e as ações “semiautoritárias” da Coreia do Sul ajudaram a evitar que a Covid-19 se espalhasse ainda mais, uma alegação totalmente enganadora e que exagera a eficácia de respostas autoritárias à pandemia.
Para começo de conversa, o governo autocrático chinês escondeu e negou a dimensão da crise. Ninguém pode esquecer de como o Partido Comunista Chinês calou os avisos de um médico na cidade de Wuhan que tentou alertar o público sobre o perigo do coronavírus. Todos temos de lembrar como a China tentou salvar as aparências ao hesitar por semanas antes de implementar medidas de controle. Isso é a essência, não um mero acidente, de sistemas autoritários.
Um estudo da Universidade de Southampton, na Inglaterra, feito pelos pesquisadores de novas doenças Shengjie Lai e Andrew Tatem, mostra que, se a China tivesse agido apenas uma semana antes, teria evitado 67% dos casos de Covid-19 no país. As sensibilidades autoritárias da China atrapalharam uma ação decisiva e importante para deter o coronavírus.
Quanto à muito elogiada resposta sul-coreana, com a qual os Estados Unidos são frequentemente comparados de forma desfavorável, a primeira coisa que precisa ser dita é que as narrativas mudam muito rapidamente. Duas semanas atrás, a revista New Yorker publicou um artigo chamado “Como a Coreia do Sul perdeu o controle do surto de coronavírus”, criticando o governo pela hesitação e reticência em conter a doença. Agora, a Coreia do Sul é um modelo. Mesmo boas respostas a uma crise podem ser inicialmente criticadas, e essa lógica pode valer para os Estados Unidos daqui a algumas semanas também.
O que a Coreia do Sul fez melhor que os Estados Unidos, sem dúvida alguma, foi testar seus cidadãos. Ainda no início do surto, o país realizou 20 mil testes diários, permitindo que o governo agisse rapidamente nos pontos de maior difusão do vírus. Como isso foi possível? Não foi pelo tamanho do governo sul-coreano, nem por meio de intimidação. Foi apenas porque o governo coordenou uma resposta pública efetiva, que teve a adesão da população.
Um surto bem feio de Mers (a Síndrome Respiratória do Oriente Médio, causada por outro coronavírus) ameaçou a saúde pública em 2015. Como resposta, a Coreia do Sul aprovou uma legislação que permitia ao governo a coleta em massa de dados de pacientes e hospitais durante emergências, incentivando uma política efetiva de testes em resposta ao surgimento do novo coronavírus neste ano.
Com essa lei, o governo sul-coreano foi capaz de avisar o público sobre aqueles que estavam potencialmente infectados, bem como os próprios portadores do vírus, permitindo que os cidadãos praticassem uma forma mais específica de isolamento social. Por mais que essa lei possa ser vista como uma violação de liberdades civis, ela permitiu que a Coreia do Sul adotasse uma abordagem mais relaxada em vez de medidas draconianas como os toques de recolher e as proibições de viagem que China e Itália tiveram de implementar. De fato, a Coreia do Sul nem bloqueou viagens nem restringiu os deslocamentos de sua população para conter a Covid-19. Ela conseguiu reduzir os casos mantendo abertura e transparência, com a confiança dos cidadãos.
Qual é a moral da história? Não é que um governo grande daria uma resposta melhor, mas que um governo mais eficiente e mais transparente é capaz de conter a pior das pandemias, como é o caso do coronavírus.
A resposta norte-americana mistura uma abordagem governamental e de sociedade civil que é peculiar e não foi tentada antes. O federalismo é evidente, à medida que o governo Trump concede autoridade aos governadores de estados para gerenciar a crise. A sociedade civil dá sua contribuição ao recomendar firmemente a autoquarentena e o isolamento social.
Ainda estamos para descobrir se essa combinação de estratégias será mesmo a mais eficaz. Mas abordagens mais pontuais funcionaram na Coreia do Sul, e o envolvimento da população – ao contrário da imposição com mão de ferro – é essencial para conter a disseminação da pandemia. Ambas as estratégias são antagônicas à resposta do “governo grande” em que uma autoridade centralizada assume toda a responsabilidade e o poder de ditar as políticas.
Quando a poeira baixar, os norte-americanos inevitavelmente considerarão propostas de reestruturar o governo baseando-se nas experiências do coronavírus. Quando chegar a hora do debate, nós, como nação, não podemos ceder ao medo e ao desejo de uma falsa sensação de segurança. Precisamos nos esforçar para que o governo seja mais leve, mais eficiente e mais transparente. Como vimos, esses termos não são sinônimos de “grande” – mais provavelmente, são o seu oposto.
Kenny Xu trabalha para a Young America’s Foundation e escreve sobre questões raciais e de política identitária. Tradução: Marcio Antonio Campos.
© 2019 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.