Como já era previsto, nesta segunda-feira (8) Ricardo Vélez Rodríguez foi exonerado do cargo de ministro da Educação, após uma gestão breve e desastrosa à frente da pasta.
Os três meses de Vélez custaram um tempo precioso a uma das áreas mais problemáticas que o governo Bolsonaro deve gerir. Já é quase um clichê exibir os indicadores que demonstram o quão precária está a educação brasileira. Nossos estudantes saem do ensino médio sem conseguir alcançar níveis mínimos de compreensão de texto e tampouco resolvem bem cálculos um pouco mais difíceis de matemática. Uma situação calamitosa como essa exigiria uma atuação profissional e eficiente. Competências que não foram demonstradas pelo atual ex-ministro.
O Ministério da Educação detém o maior orçamento da União, o que exige por si um bom administrador à frente da pasta. Mas a complexidade do sistema educacional brasileiro, com suas subdivisões e corresponsabilidades das esferas estaduais e municipais, seus programas e suas avaliações já consolidados exigem conhecimentos técnicos muito aprofundados do sistema. Além de assumir uma pasta cuja responsabilidade é o futuro intelectual das crianças e jovens, o tamanho do ministério pressupõe muito trabalho e uma capacidade de gerir um grupo enorme de pessoas.
Após três meses de quase inatividade no MEC, a aposta de Bolsonaro tem de ser certeira
Mas os problemas educacionais brasileiros não se limitam apenas a aspectos técnicos. O MEC tinha sido, ao longo dos últimos governos de esquerda, o meio preferencial pelo qual agendas tidas como “progressistas” foram levadas adiante. Pautas como ideologia de gênero, educação sexual e propaganda marxista tiveram destaque durante os governos anteriores, e uma das preocupações da atual administração, seguindo princípios mais liberais e conservadores, era dar uma guinada brusca nos temas morais e ideológicos.
O ministro da Educação tem a difícil missão de segurar duas rédeas ao mesmo tempo: por um lado deve ser técnico e competente para dar andamento à máquina administrativa do ministério; por outro deve estar alinhado com as convicções mais conservadoras do novo governo.
A iniciativa do governo de tentar introduzir na educação uma visão de mundo mais em sintonia com a da população brasileira e a inclusão de novas políticas de alfabetização e ensino são boas notícias, mas a falta de habilidade em gerenciar o Ministério da Educação tem causado a impressão de que não é possível conciliar boas ideias e boa gestão.
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Seria lamentável se essa visão se consolidasse. Contudo, no Brasil, há exemplos de que uma gestão competente pode melhorar significativamente os indicadores educacionais, sinalizando que a educação brasileira pode dar certo. Isso demonstra também que no próprio meio educacional há gente capaz e com o perfil requerido pelo cargo.
Bolsonaro indicou para a pasta o economista Abraham Weintraub. Por ser alguém que não tem larga experiência com educação, a escolha preocupa, e muito. O novo ministro é mestre em Administração pela FGV e é visto como uma pessoa alinhada aos princípios sustentados por Bolsonaro, e igualmente defende o combate ao “marxismo cultural”. Weintraub já fazia parte do governo, trabalhando como secretário-executivo da Casa Civil, segundo cargo mais importante da pasta, e chegou a integrar o governo de transição indicado pelo Ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, com quem trabalhava até então.
Após três meses de quase inatividade no MEC, a aposta de Bolsonaro tem de ser certeira. Até agora o trabalho de Weintraub como número dois da Casa Civil foi executado sem muitos sobressaltos, mas os desafios de assumir uma pasta tão grande certamente serão muito maiores.
É determinante, portanto, que a sociedade acompanhe os primeiro passos do ministério e observe quais serão as novas diretrizes e os principais projetos a serem adotados. A nova gestão do MEC precisa demonstrar prontamente que não está para amadorismos.
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