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Não basta apenas alardear que os eventos de carnaval no Brasil geram cerca de 500 mil empregos fixos e temporários, movimentam R$ 20 bilhões e geram um fluxo de quase 7 milhões de turistas nacionais e estrangeiros. Críticos afirmam tratar-se de um produto de mídia, no qual despontam mais as celebridades da tevê e menos o povo, em que se gastam recursos volumosos sem retorno para a população. Alicerçam seus argumentos no fato de a administração pública não se preocupar com a transparência e esconder dos eleitores as quantias gastas. Acusam o governo de não enfrentar os reais problemas sociais, preferindo a política do “pão e circo”.

Mas faz-se importante lembrar que o Decreto-Lei 25, de 1937, conceitua o carnaval como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, vinculando-o a fatos memoráveis da história do Brasil com excepcionais valores artísticos. O carnaval não é só uma festa do povo, como também gera ocorrências locais e regionais consideradas pelo Ministério da Cultura, Iphan e Unesco como patrimônios imateriais brasileiros. O artigo 216 da Constituição de 1988 incorpora elementos da moderna visão do que seja o cultural e, sem dúvida, cabe ao governo fundamentar-se no Sistema Nacional de Cultura de forma descentralizada e participativa (Emenda Constitucional 71, de 2012) para planejar e organizar os festejos no sentido de ampliar a participação popular e o orgulho nacional.

A tradição não pode ser abandonada, pois o carnaval é a festa do povo. E, se é bom para o povo, é bom para quem nos visita

Punição a quem mais depende da verba pública

As profundas crises econômica e política que o país enfrenta não apresentam nenhuma perspectiva de melhora em 2016. Apesar do cenário crítico, o que mais salta aos olhos é que os governistas não são os únicos que nada aprenderam sobre o que acontece quando o Estado se intromete nos setores em que não deveria fazê-lo.

Leia o artigo de Wagner Vargas, especialista do Instituto Liberal

Apesar dos afoitos julgamentos em relação à Lei Rouanet, notadamente sobre os desvios de fundos, ela traz como benefício o destaque à política de incentivos fiscais à cultura, com apoiadores utilizando-se de até 100% de isenção no Imposto de Renda. A falta de controle na fiscalização, a corrupção endêmica e a ausência de transparência não devem ser motivos para suprimir as iniciativas governamentais nos grandes eventos culturais. Difícil imaginar os sambódromos do Rio, São Paulo ou Florianópolis sem investimento público. Assim como os carnavais de Salvador, Recife e Olinda, Ouro Preto ou mesmo Joaçaba (SC) têm dificuldades de se manter sem o apoio financeiro governamental – vide os casos dos carnavais fora de época, dos grandes festivais de música ou dos megaeventos como Copa do Mundo e Olimpíada.

E vou além: torna-se fundamental potencializar o carnaval como uma marca de exportação com uma imagem internacional de qualidade e competitividade. Nas Ilhas Canárias (Espanha), o evento é organizado e patrocinado pelas prefeituras. Os folders promocionais esclarecem que este é “o segundo melhor carnaval do mundo”, só perdendo para o Brasil. Curitiba tem dado exemplo de diversificação para atingir os mais diversos públicos. Seja pelo aparelhamento dos ousados Garibaldis e Sacis, pela Zombie Walk, pelo Curitiba Rock Carnival, pelo Psychocarnival, ou até mesmo para noticiar a calmaria no período. A tradição das marchinhas nos clubes e a exultação das escolas de samba na avenida jamais perecerão. Pertencem à alma do povo.

Parcerias público-privadas com visão estratégica e políticas bem definidas são soluções em tempos de crise, recursos escassos, falta de infraestrutura e segurança. Não faltariam apoiadores nas secretarias de Cultura e de Turismo e nas entidades privadas como o Curitiba Convention & Visitors Bureau, Sebrae/PR, ACP, Fecomércio e associações de classe. A tradição não pode ser abandonada, pois o carnaval é a festa do povo. E, se é bom para o povo, é bom para quem nos visita.

Dario Luiz Dias Paixão é professor da Universidade Positivo e da UFPR.
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