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opinião do dia 2

Um povo sem esperança é um povo morto

"Não são os políticos que estão a serviço do povo, e sim o povo é que está a serviço dos políticos." Javier Sádaba, filó­­sofo espanhol

Na sociedade brasileira, há uma banalização da impunidade, que é extremamente perigosa, paralela à insensibilidade geral para a manifestação popular ou mesmo de entidades, de associações, de sindicatos etc. contra os detentores do poder. O estilo benevolente com que o brasileiro trata a situação atual nos faz desconfiar de que tudo realmente não tem jeito.

Seria a formação do caráter nacional, justificativa sempre à mão de sociólogos e outros acadêmicos para explicar nossa extrema boa vontade com a classe política, com o meio jurídico, com o nosso dia a dia? Ou onde estão os "caras-pintadas" que expulsaram Collor da Presidência? Estão satisfeitos com os quilos de casos de corrupção denunciados diariamente pela mídia? Onde estão os empresários de federações e entidades, especialmente as de nível nacional? Satisfeitos com a quantidade de impostos que seguem às mãos do governo, que pouco ou quase nada devolve em termos de infraestrutura – portos, aeroportos, rodovias, além de hospitais, casas, escolas? Onde estão as organizações de classe, movimentos sociais, sindicalistas, entidades universitárias etc.? Satisfeitos com a política econômica e social do país, além da distribuição de bolsas, escola, esmola etc.?

Estamos felizes ou nos contentamos com a situação? O que vemos é a marcha da maconha, a parada gay, a marcha das vadias, o movimento para que o chocolate Kit Kat volte a ser vendido no país, outro para que a lambada seja transformada em dança nacional, a marcha dos skatistas e por aí afora. São movimentos que merecem respeito. Mas paramos por aqui?

Por um lado, é fácil de se entender o imobilismo de certas entidades, como as ligadas aos universitários (cito a UNE) e aos movimentos sociais (lembro as centrais sindicais), entre outras. Sabemos que estão silenciosas porque recebem vultosas somas do governo federal e a ele estão atreladas. O mesmo ocorre com algumas ONGs, que, ao receber e calar, endossam toda a lama de corrupção que assola o país. O brasileiro parece desiludido, insensível, passivo, parado, inerte diante de tanta impunidade, imunidade parlamentar, imoralidade, lentidão e ineficiência jurídica. Afinal, há motivos de sobra para a manifestação diária de contrariedade ao que está ocorrendo e o que vemos são esparsos litígios entre os próprios políticos, que, disputando ou não o poder, protegem seus interesses, não ligando para o fato de que o bem maior é a proteção da população.

A presidente da República, Dilma Rousseff, faz uma espécie de varredura, tirando quase 20 corruptos de um só ministério e o que acontece? Do ponto de vista da Justiça, nada! Ninguém, juridicamente, é culpado de nada e nem pagará nada! Do ponto de vista político, o ex-presidente Lula diz que é preciso pôr "panos-quentes" na corrupção quando se trata da base aliada. Aliás, Lula esculhambou a ética e banalizou a corrupção de tal maneira que hoje todos acham que tudo é normal. Que exemplo deu à sociedade o STF, quando liberou o ex-terrorista e criminoso italiano Césare Battisti?! Que exemplo dá o Congresso Nacional, aceitando como componentes de seus conselhos de ética políticos como Collor, José Sarney, Renan Calheiros, Gim Argello, Romero Jucá, entre outros? E, entre nós, que exemplo dão os deputados estaduais e vereadores, empregando dezenas de parentes em seus gabinetes, recebendo diárias sem trabalhar, confeccionando diários secretos, usando dinheiro público para beneficiar empresas de familiares etc.?

Como explicar o comodismo que se abateu sobre a sociedade brasileira nos últimos anos? Desde o início deste ano, vimos na Europa seis governos caírem de joelhos diante das urnas numa manifestação de desgosto generalizado e sentimento de desilusão embalada pelos efeitos da crise econômica e corrupção que engole empregos, afunda padrões de vida e escurece esperanças. A decepção dos eleitores com seus representantes e com o próprio sistema que veem cada vez menos diferenças entre plataformas da direita ou da esquerda parece validar uma postura de que "são todos a mesma porcaria e não nos representam". O brasileiro está desiludido, aparentemente sem esperanças ou muito mal informado? Qualquer uma dessas hipóteses é mortal.

Cláudio Slaviero, empresário, é ex-presidente da Associação Comercial do Paraná e autor do livro A vergonha nossa de cada dia.

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