O presidente da República, Jair Bolsonaro.| Foto: Presidente da República
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Mesmo antes da explosão da Covid-19, nossa economia já não andava bem: o governo hesitava em relação às reformas, suas demais ações não estavam surtindo efeito e os índices continuavam negativos, com destaque para o setor de serviços (-0,1%). Comércio e indústria vinham de oscilações muito acentuadas, com predominância de números mais negativos do que positivos. O Brasil não estava decolando, estava derrapando.

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Naquele mês fatídico de março, o Brasil estava comprometido economicamente e, por consequência, puxando consigo o governo do presidente Bolsonaro – um fato que deixou todos nós, economistas, e a população desolados, pois todos queremos o melhor para o país. E, como o objetivo do presidente era (e ainda é) a reeleição, ele implementou atitudes kamikazes, criando um genocídio na saúde e na economia.

Primeiro, porque os pretensos pacotes econômicos para estimular a economia foram pífios. Em especial as micro e pequenas empresas, que detêm mais de 55% dos empregos no país, não tiveram apoio real do governo federal. As grandes empresas que precisam de capital de giro também reclamam da mesma situação. O governo demorou demais para tomar ações concretas, e a única medida acertada no aspecto econômico foi a MP com a suspensão do contrato de trabalho com parte do pagamento feito pelo governo. As demais, como a liberação de credito, são uma vergonha e mera fumaça para tentar persuadir a população.

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O aspecto social também foi uma tragédia, com o governo oferecendo um valor aquém do mínimo ideal para tranquilizar a população. Bolsonaro queria R$ 200, e foi o Congresso que aumentou o auxílio para R$ 600 – o que ainda é uma vergonha. O valor minimamente digno seria um salário mínimo por seis meses, e não por três. O mais trágico disso é colocar as pessoas mais necessitadas em uma situação vexatória e, ainda, estimulando a contaminação pela legião que ainda orbita as agências da Caixa no país, em uma falta total de planejamento.

Ao insistir em dizer apenas “vamos trabalhar, a culpa não é minha”, o presidente não respeitou as ações dos seus ex-ministros da Saúde. Consequentemente, as pessoas, que pelo desespero natural entraram em uma sintonia equivocada com Bolsonaro, foram à rua pedindo o liberou geral na economia, tudo estimulado de forma deliberada pelo presidente. As ações criminosas do governo no aspecto da saúde acabaram criando este pânico que está causando o aumento da curva; hoje somos o epicentro da pandemia.

O desastre do governo foi não ter assumido suas responsabilidades e não ter coordenado desde o início um plano estruturado, integrando saúde e economia, como fez a Alemanha. O segredo de Merkel foi a paralisação total da economia inicialmente, mantendo população e empresas com renda e capital para não gerar pânico, e ações coordenadas com os seus 16 governadores e todos os prefeitos, resultado em poucos óbitos e abertura gradual e controlada da economia neste momento.

Se tivéssemos tido comando como o de Merkel, não precisaríamos enfrentar agora o lockdown. Em vez disso, com seu negacionismo sobre a pandemia, alegando “deixa contaminar todo mundo logo, as mortes são inevitáveis, assim a economia segue”, o presidente se perdeu e começou atuar como um kamikaze, cometendo crimes na área da saúde, o que é nítido e notório.

Curioso notar que somente Bolsonaro e o presidente bielo-russo tomaram atitudes que estimularam o suicídio dos seus compatriotas. Talvez Bolsonaro faça isto pois já teve a Covid-19 e, por sorte, não teve complicações; ou porque, como Ortega, da Nicarágua, ache que isso não existe. Mas até Trump, que é o referencial de Bolsonaro, disse que o Brasil está na contramão do mundo – ele foi até elegante, pois, sendo o brasileiro seu discípulo, Trump não faria uma crítica direta como fez a outros, mas ele quis dizer que Bolsonaro é despreparado. Pautado em suas atitudes pessoais, o presidente está cometendo um crime, um genocídio contra a população; não pela sua fala, que por si só já representa negligência, mas por ações que deveriam ser paralisadas, até mesmo participando de passeatas e manifestações, como se estivesse em campanha.

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O Brasil hoje é epicentro da Covid-19 no mundo, e o presidente diz que “economia é vida”; como economista e professor, nunca vi uma frase tão estapafúrdia. As pessoas, em um pânico estimulado pelo presidente, falam só de economia. Óbvio, pois, se não recebem ajuda suficiente do seu governo, o pânico é mesmo generalizado.

Diariamente, Bolsonaro diz que “todos deveriam voltar ao trabalho, se dependesse dele”, inclusive promovendo o uso da cloroquina para forçar a liberação da economia geral, com um argumento técnico pífio; isto é uma fala kamikaze e genocida, querendo imputar as milhares de mortes aos governadores e prefeitos. Mas vejam o que disse João Gabbardo dos Reis, ex-número dois do Ministério da Saúde: “se os governadores e prefeitos não tivessem as restrições criticadas pelo presidente, as mortes seriam exponencialmente maiores”. Enquanto o mundo procura evitar o genocídio, até com paralisações religiosas como a do Ramadã na Arábia Saudita, Bolsonaro estranhamente quer que todos sigam para as igrejas e templos.

Os crimes e omissões do presidente são inúmeros, além do que caberia neste artigo, mas muito visíveis para o MPF e a Justiça. Vamos deter este presidente que comete crimes e desafia as leis? O vice-presidente Hamilton Mourão, não tenho dúvidas, faria um grande governo. Bolsonaro como presidente é um ótimo capitão do Exército.

Màrcello Bezerra é economista e palestrante.