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Neste mês de agosto tão emblemático para o país, pode ter passado despercebida a comemoração do “dia do historiador”, data instituída em 2009 e que tem como fundamento discursivo a homenagem ao nascimento de Joaquim Nabuco, em 19 de agosto de 1849.

Triste incoerência, se constatarmos que são pouquíssimos os professores de História do Brasil que conhecem a biografia do sempre menino do Massangana, mas que, não obstante, entendem-se capazes de palpitar sobre o abolicionismo de Nabuco. Não escrevo isso por hipérbole; traço uma conclusão de quase dez anos de estudos sobre o pai de Carolina Nabuco. Dessa forma, atendendo a essa triste demanda nacional de exiguidade representativa, registro algumas singelas linhas sobre o homem que Gilberto Freyre definiu como sendo “o brasileiro do seu tempo e de todos os tempos”.

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Joaquim Nabuco, mais que qualquer outro, é o redentor dos cativos no Brasil. Foi o menino tocado pela força arrebatadora do instante, alimentado pelo leite de escrava, bebê carregado nos braços dos negros escravizados em Pernambuco, amigo de notáveis, advogado de negros, conservador brasileiro de matriz britânica, o católico tardio admirador de Leão XIII, amigo íntimo de André Rebouças, inspiração de Machado de Assis, homem que renegou fortunas. Foi filho, sobrinho, esposo e pai de quatro filhos.

Nabuco, mais que qualquer outro, é o redentor dos cativos no Brasil

O autor da fascinante obra Minha Formação foi um brasileiro sem revanchismos de cores, que abdicou de parte ainda viva de sua mocidade para dedicar-se às grandes obras e ações de sua época – abolicionismo, federalismo, americanismo e monarquismo. Mais do que uma brilhante esfinge de nossa história, trata-se de um patrimônio vivo, sobrevivente aos ventos do tempo, eloquente símbolo que fascina em cada uma de suas facetas.

Desde a infância, nota-se que Joaquim Nabuco foi dotado de uma educada percepção, nutrida pelos afagos e rosários de sua doce, gorda e viúva madrinha. São os oito anos de morada no Massangana que o fizeram constituir-se no abolicionista singular de nosso passado oitocentista, gerado, sobretudo, no encontro homérico de dois Brasis, ocorrido na sua varanda, onde o nosso ainda menino de 8 anos estava deleitando a paisagem estimulante de seu engenho quando foi surpreendido por um escravo em condições precárias, suplicando o acolhimento de sua madrinha – que tinha fama de boa dona. Esse encontro, mais que os muitos aprendizados ao longo de sua formação humana, política e intelectual, transformou a sua alma. Nosso prolífico historiador mudou mais de uma vez de atitudes sobre as mais variadas questões, mas esse encontro eternizou-se na sua epiderme moral, bússola ética que o conduziu nos caminhos da vida.

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Nabuco foi um servo de uma causa moral. Jamais um militante do tangível. Por essa razão, é inadequado reduzi-lo ao papel de “discurso dominante sobre a escravidão no Brasil”, pois poucos brasileiros olharam para a dignidade humana como o nosso notório pernambucano, sendo essa a tinta moral de sua pena. Considero-o um milagre que só o pecado da escravidão foi capaz de formar, dotado de uma grandeza que não deve ser esquecida, principalmente em nossos dias marcados pelas posturas politiqueiras e pela verborragia nos estudos sobre a escravidão negra. Deixo o manifesto de que as seguintes – e ainda atuais – palavras de Nabuco sejam lidas com uma força perceptiva capaz de impulsionar a alma: “Precisamos acabar com a obra da escravidão e não só com a escravidão”.

Thomas Giulliano Ferreira dos Santos é professor de História do Brasil e editor do site História Expressa .