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Artigo

Uma escola chamada pandemia

Homem caminha por rua vazia em Manchester, Inglaterra, no início de novo lockdown no país para combater as transmissões de Covid-19, 5 de janeiro. (Foto: Oli Scarff/AFP)

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O profundamente belo da palavra “escola” é que ela se encontra não apenas no contexto da sala de aula, mas como uma entidade presente no decorrer da vida humana. Escolas são erros, escolas são acertos, escolas são escolhas. Dos mais densos abismos humanos se aprende a escalada aos céus; das mais desertas colheitas, se aprende a semeadura. A vitória nos custa muito, mas não há preço que pague pela aula do fracasso.

Nesta pandemia aprendi. Aprendi porque acredito que falhamos como humanidade, e porque acredito que o fracasso é uma ladeira feita de degraus: é um professor impecável; ideal, platônico. As grandes escaladas só são grandes porque se originam dos poços mais fundos.

Aprendi que não se pode vencer o tempo; portanto, não é sábio tê-lo como inimigo. É necessário deixá-lo entrar, nos deixar marcas. Necessitamos mais um do outro do que imaginamos. Nosso planeta é uma grande cooperação, não uma corporação. De nada vale o brilhante ano da bolsa de valores se a esperança resiste a brilhar nos olhos dos nossos.

A paciência é uma virtude poderosíssima e, ao que me parece, de poucos; a ansiedade, um vício – ao que me parece, de muitos

Aprendi que há uma força dentro de cada um de nós capaz de atravessar o que conhecemos como limite. Essa força é íntima de cada um, e me parece ser, apesar dos voos internos, encontrada somente em períodos de grandes turbulências.

Aprendi que ensinar é a palavra primogênita, filha predileta da palavra aprender, e que devemos abrir os nossos olhos para o complexo dicionário que é o ver. Que a morte pode ser vencida por nós; não individualmente (pelo menos nos próximos 50 anos), mas coletivamente. A morte se vê inútil diante da memória e da saudade. Um luto é maior que uma estatística. Não aferindo contra os matemáticos; falo dos significados de nossos próprios significados.

Aprendi que estar livre não significa sê-lo. Esta frase é funda e me permito deixá-la só: em quarentena.

Na bruta escola da pandemia, aprendi que a paciência é uma virtude poderosíssima e, ao que me parece, de poucos; a ansiedade, um vício – ao que me parece, de muitos. A esperança, um milagre; o desespero, um humano traço. Aprendamos com a natureza: ciclos nos ensinam lições estruturais profundas das coisas. O fim, para a química, é um desarranjo para infinitos recomeços. Os átomos são sábios. A raça humana foi a nocaute por algo infinitamente menor que uma gota de nossos oceanos. E meu ego lhes pergunta: algum dia eles foram nossos?

Vi, num estalar de dedos, fortunas sufocarem até valerem menos que o ar puro. A natureza colecionou mais um troféu perante o capital: sua humildade não comemora.

Aprendi que a humildade é uma forte aliada da calma. O fardo da arrogância é uma constante falta de ar. É preciso ter fôlego para aprender.

Aprendi que todos nós aprendemos a aprender.

Guilherme Azevedo Bacchin é estudante de Letras e escritor.

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