Há exatos dez anos a tarifa de ônibus de Curitiba custava ao cidadão R$ 2,20, segundo dados da Urbs. De lá para cá, assim como em todos os governos municipais e estaduais, a tarifa de ônibus na capital paranaense tem um mesmo dilema: o custo e a metodologia utilizada na tarifa técnica para a integração do transporte.
Neste mês, na Câmara Municipal de Curitiba, tivemos uma importante vitória que dá fôlego a um sistema que precisa urgentemente discutir novos formatos, ideias e soluções. Para entender o significado deste avanço, precisamos expor algumas coisas de maneira clara e direta.
Todo mês, o sistema de transporte público rende um prejuízo milionário aos cofres da prefeitura de Curitiba e do governo do estado. É um formato de arrecadação que não “se paga”. O dinheiro gerado com a cobrança das passagens não é o suficiente para bancar o custo operacional.
De onde vem este valor tão alto? Bem, vamos a alguns fatores: o valor do quilômetro rodado é alto – de aproximadamente R$ 9,70; pouco mais de 50% da arrecadação vai para o custo com pessoal, entre cobradores, motoristas e demais funcionários; o preço do diesel representa 12%, e aqui reforçamos a nossa luta pela eletrificação da frota, que pode diminuir sensivelmente este índice; as isenções impactam em aproximadamente 14% da tarifa e há a taxa de administração da Urbs – que devemos discutir se deve compor o valor final que chega ao usuário.
Um transporte público moderno não é feito apenas de novos ônibus e estações-tubo, mas também da elaboração de políticas tarifárias flexíveis e inteligentes
O índice de passageiros/mês, que já foi de 22 milhões, agora é de 15 milhões. Como o custo operacional não reduziu neste período – e há menos gente arcando financeiramente com o sistema –, isso faz com que a tarifa tenha um preço cada vez maior.
Com o atual número de passageiros/mês computado, cada curitibano precisaria desembolsar ainda mais que os atuais R$ 4,50. A tarifa técnica atual, neste setembro de 2019, é de R$ 5,25. Sendo assim, o valor que a prefeitura tem de cobrir a cada vez que a catraca gira é de R$ 0,75. Para honrar este compromisso, a prefeitura de Curitiba e o governo do estado bancam a diferença.
O atual formato de subsídio do transporte público mostra que Rafael Greca e Ratinho Junior aprenderam a lição dos antecessores. Perceberam que o melhor caminho é trabalhar em conjunto para amenizar a crise do sistema de ônibus em Curitiba. Nesta soma de esforços, temos atuado incansavelmente no Legislativo municipal para encontrar soluções.
Depois de uma luta que iniciamos na CPI do Transporte Coletivo, em 2013, conseguimos aprovar, neste setembro de 2019, o Bilhete Único e a cobrança de tarifa diferenciada em horários de menor movimento dos ônibus em Curitiba. Entendemos que, apesar de investigativa, uma CPI não deve ter apenas um caráter punitivo e disciplinar, mas também trazer novas ideias e soluções. Por isso, foi nesta Comissão Parlamentar de Inquérito, entre planilhas e análises técnicas, que nasceu essa proposta.
A iniciativa trata de duas alterações de ordem prática. O Bilhete Único, que pode permitir ao usuário pegar mais de um ônibus pagando apenas uma tarifa. Neste sistema, o usuário adquire uma espécie de “assinatura”, válida por um período de tempo – mensal, semanal ou diária, por exemplo. Dentro desse intervalo, pode embarcar e desembarcar quantas vezes quiser, independentemente de estações-tubo ou terminais.
- Mobilidade urbana para autonomia humana (artigo de Ivo Reck Neto, publicado em 21 de setembro de 2019)
- Os altos e baixos da vida sem carro próprio (artigo de Kara Swisher, publicado em 19 de setembro de 2019)
- O governo Bolsonaro e a mobilidade urbana (artigo de Roberta Marchesi, publicado em 12 de janeiro de 2019)
A outra novidade é a cobrança da passagem com preço diferenciado em horários de menor movimento. Trabalhamos para que as linhas com menor ocupação tenham um desconto de até aproximadamente 10%, de acordo com cálculos iniciais feitos por técnicos. As linhas contempladas serão definidas pela prefeitura de Curitiba, junto com a Urbs. Para viabilizar essas melhorias, a redação do nosso projeto de lei (005.00016.2017) alterou a Lei Municipal 12.597/2008, que dispõe sobre a organização do sistema de transporte coletivo da cidade de Curitiba.
Sobre a tarifa diferenciada em horários de menor movimento, é importante deixar claro: o ônibus tem praticamente o mesmo custo operacional rodando vazio ou cheio. Ao propor essa cobrança diferenciada, queremos trazer novamente para o sistema os passageiros que deixaram de utilizar o ônibus como alternativa de transporte. Com mais pessoas, há mais gente para dividir o ônus operacional e recalcular a tarifa técnica. Importante passo rumo à redução da tarifa final que chega ao curitibano.
Se medidas como essa não entrarem em prática, podemos até chegar a uma situação extrema em que os transportes coletivos circulariam exclusivamente em horários de pico e deixariam de operar em horários de menor movimento, situação impensável para quem sempre foi referência em planejamento urbano. Por outro lado, com essas medidas em prática, qualquer trabalhador poderá utilizar livremente o transporte coletivo durante um mês com o custo equivalente ao de um tanque de gasolina para um carro. Dentro de pouco tempo, novas alternativas de cobrança, através de aplicativos de transporte, cartão de crédito e débito passarão a ser realidade. Estamos inovando e revolucionando a forma de o cidadão se relacionar com o transporte público.
Curitiba não pode mais ser refém da vanguarda do passado. Os tempos mudaram e uma metrópole desse tamanho precisa estar em constante evolução e atualização. Um transporte público moderno não é feito apenas de novos ônibus e estações-tubo, mas também da elaboração de políticas tarifárias flexíveis, inteligentes, que estimulem o curitibano a circular em nossa cidade de múltiplas formas. Neste cenário, o Bilhete Único e a cobrança de tarifa mais barata em horários específicos são os primeiros passos de uma nova Curitiba que pode ser repensada e construída diariamente por cada um de nós.
Bruno Pessuti é vereador de Curitiba, engenheiro mecânico, professor universitário e autor da proposta do Bilhete Único.
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