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Uma mulher no Ministério da Defesa
| Foto: Divulgação/Exército Brasileiro

Em meados do século passado Morris Janowitz, o criador da Sociologia Militar, num de seus artigos, expôs um conceito deveras relevante para explicar as recentes transformações concernentes às Forças Armadas o qual denominou de civilianization (“civilinização”). Segundo ele a civilinização pode ser entendida como a presença ativa de civis nas Forças Armadas ou o emprego nelas de concepções civis. Tendo por base as sociedades democráticas, Janowitz disse que o pujante avanço da tecnologia se apresenta como o grande responsável pelo fenômeno da civilinização porquanto ele aproxima cada vez mais os paisanos dos fardados, bem como desfaz progressivamente a distinção entre civis e militares e suas organizações.

Uma das consequências de tal fenômeno foi a entrada das mulheres nas instituições castrenses. Sem dúvida se mostrou como uma ocorrência marcante porque causou um sério estremecimento na condição existencial secular das Forças Armadas até então concebida como um reduto masculino e machista. Na década de 1970, os exércitos do ocidente começaram a aceitar as mulheres em condições de igualdade com os homens nos diversos ramos da profissão militar e, nos primórdios do século atual, os do oriente seguiram o mesmo caminho.

Vale lembrar que tanto na Primeira quanto na Segunda Guerra Mundiais elas marcaram presença de modo menos ostensivo e limitado, como médicas e enfermeiras em hospitais de campanha relativamente afastados da linha de fogo, e, posteriormente, atuaram em setores burocráticos, como interpretes e no controle de voos. Integraram também pelotões combatentes na Alemanha durante a Segunda Guerra. Atualmente, as mulheres são consideradas aptas física e mentalmente para exercer todas as funções destinadas aos fardados masculinos, inclusive a de guerreira. Dois grandes problemas enfrentados por elas nos quartéis dizem respeito ao assédio e à agressão sexual. E se forem capturadas como prisioneiras de guerra estarão sujeitas a abusos recorrentes.

Desde há muito tempo as mulheres continuam adentrando nas hostes castrenses. Em vários países do mundo, inclusive no brasil, as mesmas estão demonstrando um bom desempenho nas atividades que desempenham e muitas vêm ocupando posições de destaque, tal como da general de quatro estrelas Jacqueline Van Ovost, comandante do Comando de Transporte dos Estados Unidos e da Brigadeiro Médica Ana Paola Medeiros, diretora do Departamento de Saúde e Assistência Social do Ministério da Defesa do nosso país. Tais exemplos de mérito e prestígio, além de muitos outros, demonstram que o avanço das mulheres nas Forças Armadas tem contribuído decisivamente para superar a condição de reduto masculino e machista dessas instituições

A partir da segunda metade do século passado até os dias de hoje, muitas dezenas de mulheres já ocuparam o cargo de Ministro da Defesa em diversos países. Cabe recordar alguns nomes, como Indira Gandhi na Índia, Elisabeth Rehn na Finlândia, Kim Kampbell no Canadá, Laura Miranda na Costa Rica, Kristin Devold na Noruega, Michelle Bachelet no Chile. Pelo que se sabe, mesmo enfrentado as dificuldades pertinentes, todas alcançaram êxito em suas tarefas no decorrer do mandato. Ressalte-se que a atual ocupante da pasta na Alemanha é Christine Lambrecht.

No Brasil, tivemos alguns ministros civis homens que ocuparam a pasta da defesa. Um artigo publicado por Jorge Zaverucha relativo aos titulares indicados por Cardoso e Lula revelou a inexistência de uma real sujeição por parte dos militares ao poder civil, haja vista que ocorreram atos de resistência e insubordinação resultantes de um legado autoritário. Considerando o posicionamento arredio dos atuais comandantes militares, o qual tende a refletir o sentimento majoritário reinante no interior da caserna, é bem viável que outro ministro masculino venha a padecer o mesmo destino de seus antecessores.

Por sua vez, a emergência de uma figura civil feminina provavelmente terá o poder de acalmar os ânimos, desarmar os espíritos e criar um ambiente de conciliação. Em termos de perfil, parece conveniente que a indicada deva ser alguém com trânsito no interior dos quartéis e que seja reconhecida como uma pesquisadora renomada de assuntos militares. É acreditável que uma ministra com este perfil seja capaz de apaziguar o humor dos fardados, aproximá-los do novo governo e, possivelmente, criar as condições para implementar as reformas necessárias visando torná-los mais sintonizados ao regime democrático e adeptos de uma relação profissional com os dirigentes civis.

Antônio Carlos Will Ludwig é professor aposentado da Academia da Força Aérea, pós-doutor em Educação pela USP e autor de “Democracia e Ensino Militar” (Cortez) e “A Reforma do Ensino Médio e a Formação Para a Cidadania” (Pontes).

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