A nova política possível é uma política pública, não a de grupos de interesses como se transformaram os partidos. É aquela que se dá a partir da sinergia entre governos, iniciativa privada e cidadãos
O sistema representativo está morrendo de inanição. Historicamente, o representante era eleito para elaborar e executar políticas públicas de interesse do representado. Hoje, ele interpreta o mandato, distorce a vontade da sociedade e trabalha em benefício de grupos de interesse ou de pequenos caprichos autocráticos.
Nossa missão é reverter esta tendência antes que a crise de representatividade destrua o estado democrático. O processo eleitoral de 2010 é mais uma oportunidade para que a sociedade assuma um papel relevante no cenário político.
Nas últimas semanas me reuni com mais de 200 lideranças empresariais de todo o Paraná para dialogar sobre as formas de melhorar a qualidade da participação do empresariado na política. Marca forte desta mobilização é o consenso de que o empresário deve adotar um novo posicionamento e assumir maior protagonismo no cenário político local e nacional.
Não resta dúvida de que o sistema político brasileiro vive uma aguda crise de legitimidade. Carcomido pelo jogo de interesses, está desacreditado. Seus processos ficaram obsoletos em relação aos avanços conquistados pela sociedade nas últimas décadas.
Chegamos a um ponto de inflexão. Tendo esgotado suas possibilidades, o sistema político do País precisa ser reformado com urgência, antes que o descrédito de hoje comprometa, logo adiante, o bem mais precioso da democracia: a liberdade dos cidadãos.
Dados preocupantes revelam que nos últimos anos houve retrocesso de liberdade de imprensa em quase todos os países da América Latina. É urgente, portanto, uma reforma política profunda, que signifique também vitalizar os pressupostos que sustentam a própria sociedade civil.
O imperativo de readequar o nosso sistema significa uma mudança na maneira como nós, brasileiros, fazemos e influímos na política. Não podemos mais continuar no papel de coadjuvantes chamados para legitimar decisões tomadas de cima para baixo.
Nosso desafio é contribuir para reformar o velho sistema representativo e ensaiar novas formas de interação política, de baixo para cima, na base da sociedade. Se não arregimentarmos as forças na sociedade em torno de uma nova plataforma de ação política, elaborada e encaminhada de modo autônomo, nunca vamos influir efetivamente nas decisões do sistema político.
A saída é promovermos duas coisas juntas: reformar e inovar.
No que tange à reforma, é fundamental restaurar o poder dos cidadãos e das localidades. Falamos aqui da introdução do Voto Distrital Misto e da configuração de um Novo Pacto Federativo, que devolva aos municípios recursos que foram usurpados pelo governo central e pelos governos estaduais.
Em relação às formas inovadoras de interação política é necessário conceder prioridade para aquelas que verdadeiramente aprofundem as relações entre democracia e o desenvolvimento local.
A nova política possível é uma política pública, não a de grupos de interesses como se transformaram os partidos. É aquela que se dá a partir da sinergia entre governos, iniciativa privada e cidadãos. Deve estar centrada no fortalecimento da sociedade civil, no empreendedorismo das pessoas e no protagonismo das populações locais.
O desenvolvimento local é, portanto, a chave para decifrar o enigma. Promovido por novos atores sociais, articulados em rede, é a pedra de toque para favorecer a emersão de uma nova política, não apenas representativa, reativa e reivindicativa, mas também participativa, interativa e proativa.
Estas novas redes de participação política precisam envolver cada vez mais empresários, universitários, ambientalistas, cientistas e pesquisadores para que possamos assumir nosso papel de liderança.
Se não podemos mudar as decisões de Brasília ou da capital do estado, com certeza podemos começar mudando a política nas localidades onde estamos. Ali é possível fazer a política que interessa a toda a sociedade: a política do desenvolvimento humano e social sustentável.
* * * * *
Rodrigo da Rocha Loures é presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep).