Com o estabelecimento do padrão dólar em Bretton Woods e diante de uma Europa devastada pelos horrores da guerra, o mundo ocidental, a partir de 1945, viu o surgir de uma estratégica ascensão americana, através de uma pauta de dominação bélica associada a acordos comerciais expansionistas. Com o fim da Guerra Fria e, em especial, com a queda do Muro de Berlim, a ordem global assistiu a afirmação hegemônica dos EUA e o fim da bipolaridade estabelecida com o bloco soviético. Durante praticamente duas décadas, o liberalismo americano vicejou de forma absoluta, sem adversários ou ameaças substantivas, gerando uma era de grande estabilidade, crescimento econômico e desenvolvimento tecnológico superlativo.
Como num sopro, a vida mudou.
A queda das Torres Gêmeas apresentou a ameaça terrorista. Poucos anos depois, a bancarrota do Lehman Brothers expôs as vísceras de um sistema financeiro descontroladamente alavancado e geneticamente corrompido por instrumentos de crédito fictícios. A ação rápida do FED garantiu a liquidez do sistema bancário, inundando o mundo com dólares a rodo. No entanto, quando aquilo que é escasso se torna farto, há uma inerente perda de valor monetário. E, assim, velhos players foram se reorganizando para mostrar as unhas em um dinâmico e imprevisível tabuleiro mundial, com renovadas posições da China, a cambaleante Europa, uma enigmática Rússia e boa parte do eixo Ásia-Pacífico desenvolvido.
Os tradicionais mecanismos de controle das massas viraram pó, quebrando a bússola de navegação dos velhos e puídos instrumentos da política
Analisando os dilemas geopolíticos contemporâneos, a inteligência superior de Yuval Noah Harari, em recente artigo na The Economist, apontou para a urgência de uma ordem política pós-liberal, baseada na cooperação internacional e, não, em conflitos armados, clamando para o enfrentar de três graves desafios incontornáveis: risco nuclear, mudanças climáticas e disrupção tecnológica. Enfim, enquanto o mundo discute o futuro, a América Latina tenta vencer as amarras do passado.
Aqui, no Brasil, temos o paradoxo de tentarmos ser pós-liberais, desconhecendo o que foi o próprio liberalismo. Infelizmente, nossa cultura, ao invés do livre mercado, sempre privilegiou o estatismo patrimonialista. Não é à toa, portanto, que o dinheiro acabou em nosso federalismo falido. Ora, a conhecida máxima de que é preciso enriquecer antes de envelhecer passou batida em nosso país. Nesse contexto problemático, os desafios do amanhã são gigantescos e não há mais tempo a perder.
Leia também: Uma chance para a pauta liberal (editorial de 4 de novembro de 2018)
Leia também: O Brasil entrando nos trilhos do liberalismo econômico (artigo de Cristopher Lingle, publicado em 8 de novembro de 2018)
Objetivamente, o surgimento eficaz de uma ordem pós-liberal tem como pressuposto o nascer de novas estruturas de poder que sejam aptas e capazes de satisfazer os pulsantes anseios da sociedade atual. A tecnologia da informação deu voz aos invisíveis, habilitando-os a participar do fluído e frenético ecossistema das redes sociais. A partir daí, os tradicionais mecanismos de controle das massas viraram pó, quebrando a bússola de navegação dos velhos e puídos instrumentos da política.
Antes de se perguntar para onde vamos, primeiro responda: o que queremos ser?
Impasse sobre apoio a Lula provoca racha na bancada evangélica
Símbolo da autonomia do BC, Campos Neto se despede com expectativa de aceleração nos juros
Eleição de novo líder divide a bancada evangélica; ouça o podcast
Eleição para juízes na Bolívia deve manter Justiça nas mãos da esquerda, avalia especialista