A inquietação que intitula este artigo não é novidade; sempre nos perguntamos a esse respeito em nossas ações pastorais, preparação para batismos, casamentos e serviços em comunidade. Dá-se a impressão que o “cheiro” da pós-modernidade não sai de nós, e isso gera uma insatisfação em todos os que servimos nas pastorais e movimentos eclesiais. Como entender essa sociedade massificada e individualizada, na qual poucos assumem compromissos? “Não quero ajudar na pastoral, preciso das missas e me basta” – este é o retrato da realidade de muitas de nossas paróquias.
Em nossas comunidades, para que as pessoas exerçam a fé, há muitos caminhos, três eixos principais de uma grande engrenagem: caridade, liturgia e catequese. Um dos nossos desafios é que os iniciados, ungidos e confirmados permaneçam na vida comunitária e anunciem a nova evangelização que os bispos no mundo inteiro nos pedem.
Como conciliar fé e razão? Tudo parece ser secular e carregado do abstrato; tudo se racionaliza, mas de maneira distante e com pouca perspectiva e luz para uma ação maior da pessoa no mundo. A modernidade não pode continuar escrava da razão e da secularidade; precisamos de princípios. A razão instrumentalizada já era questionada por Herbert Marcuse, Jürgen Habermas, Theodor Adorno e outros filósofos. Será que a razão moderna pode orientar a vida e a liberdade?
Como encantar para a transcendência e para a visualização de Deus no mundo?
Vemos uma vontade individual prevalecendo sempre nas decisões pastorais, justificando ausências e omissões. Na pastoral urbana, vemos um descrédito das pessoas para constituírem o vínculo comunitário; perdura sempre a vontade individual. Para estes, há uma difícil adesão diante do mistério de Deus. Não conseguem percebê-Lo em si mesmos e no outro, no próximo. O conceito deste tempo é viver em um mundo globalizado, em uma cultura de individualidade, mas ligados pela massificação. O mundo vive o drama dos jogos virtuais que alienam e conduzem à perda do sentido da vida e ao obscuro da morte.
Jean-François Lytoard aponta que no tempo presente é perdida a “noção da compreensão de realidade” no sentido daquilo que une as pessoas. Cada um constrói seu próprio sentido. Todo o processo religioso fica distante do ser humano, e uma visão monoteísta de Deus mais ainda, desaparecendo a noção do sagrado e da existência.
No contexto de nossas comunidades e em nosso agir pastoral, necessitamos urgentemente apelar para que, no sentido da liberdade, o ser humano possa testemunhar a fé, tanto na sua individualidade quanto no coletivo, seja em sua família ou em sua paróquia. Como encantar para a transcendência e para a visualização de Deus no mundo? Precisamos de respostas. Esta é dada no sim de cada um, de todos nós que formamos a Igreja, na vida no mistério. Uma visão individualizada e limitada do poder e do amor de Deus retira toda a possibilidade do crer. Esta visão particularizada vê a Igreja somente como instituição, autoridade, obscura e geradora de preconceitos.
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Não estamos em uma odisseia; já percorremos muitos caminhos e temos muita esperança em nosso meio. Como afirmou o arcebispo de Curitiba, em outros contextos: “Jesus já veio para todos”, não precisamos inventar mais nada que não seja o convite à salvação e à edificação do Reino, como já dizia Joao Paulo II no documento Ecclesia in America. Como Igreja que evangeliza, precisamos sempre voltar às fontes e relembrar a nossa Tradição como objeto exterior do que recebemos. Que nunca nos falhe a memória!
Para vivemos bem a fé, recorramos sempre para a vida em Deus. Sabemos que o ser humano é um sujeito de relações, e os princípios pastorais que podem ser aplicados em minha paróquia podem não exercer a mesma influência para quem está do outro lado da cidade. Mas, dentro da individualidade, podemos nos ajudar para que encontremos na liturgia, na caridade e na nossa catequese ao coletivo e a abertura para o transcendente. Esta abertura tem uma finalidade, que é o agir de Deus no mundo. Esse agir é pastoral e serve para ajudar o mundo a ser o cenário de Deus e sua vida para todos os povos do mundo.
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