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Nas ciências sociais, a academia brasileira tende a concentrar reflexões e teses sobre pequenos problemas no Brasil. Deixa aos acadêmicos estrangeiros o papel de estudar temas da humanidade e tendências da civilização. O professor da Universidade de Brasília, Elimar Nascimento, faz parte de um grupo que pensa o mundo. Há 30 anos, ele criou o Centro para o Desenvolvimento Sustentável (CDS) com o propósito de focar, de maneira multidisciplinar, grandes problemas da humanidade.

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Em seu novo livro Um mundo de riscos e desafios – conquistar a sustentabilidade, reinventar a democracia e eliminar a nova exclusão social, publicado pela editora da Fundação Astrojildo Pereira, Elimar apresenta o resultado de reflexões pessoais com a amplitude que se vê em grandes pensadores do mundo. A publicação se afirma na bibliografia internacional como grande contribuição na discussão dos temas do decrescimento, da democracia e da modernidade relacionada à globalização e à exclusão. O autor fala do tema tabu, na mente e na academia brasileira, do decrescimento.

É preciso reconhecer a ousadia intelectual de Elimar ao propor o debate sobre a substituição do crescimento pela busca do decrescimento feliz, fortemente sustentado em bibliografia, com autores do exterior que há décadas demonstram não apenas limites físicos ao crescimento, mas também limites existenciais do progresso desenvolvimentista, incapaz de gerar felicidade pelo consumo.

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O capítulo onde o professor Elimar apresenta ideias para uma reinvenção da democracia nos permite conhecer os riscos que sofre a democracia no mundo atual. É um capítulo que alerta para as ameaças externas e que a democracia tem limites e insuficiências próprias do sistema e não parece ser capaz de dar respostas a problemas planetários atuais: meio ambiente, migração em massa, comunicação simultânea e universal, fake news, internacionalização financeira e comercial, corrupção, esgotamento do Estado.

Ela não será capaz também de barrar o uso das novas tecnologias para ampliar o fosso entre pobres e ricos, levando à exclusão e até a um apartheid biológico, não apenas racial. O professor Elimar avança com uma análise cujo único defeito seria a visão otimista de que ainda há esperança para o homo sapiens não se transformar no homo escorpius, que se suicida porque a voracidade do consumo está na sua natureza.

Ainda é cedo para saber se prevalecerá o homo escorpius suicida ou se um homo novus surgirá superando os riscos e desafios que o autor apresenta. De qualquer forma, pode-se dizer que esse novo livro precisa ser lido e terá um papel importante na formulação de uma alternativa sustentável para o futuro da humanidade.

Cristovam Buarque é professor emérito da Universidade de Brasília.