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Mais um ano começou e muitos já pensam o que poderão fazer de diferente. Parar de fumar costuma ser uma das mais frequentes promessas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), abandonar o tabagismo é a coisa mais importante que se pode fazer pela própria vida. Cigarro e outras drogas devem mesmo estar entre as prioridades daqueles que querem preservar a própria saúde e a da família.

Não é uma batalha fácil. Especialmente em relação às drogas em geral, incluindo o álcool, deixá-las em definitivo tende a ser uma decisão sempre empurrada para o ano seguinte. Ou pior, abandonada no meio do caminho.

Dados do Ministério da Saúde revelam que 10,8% da população brasileira é de fumantes, a maioria homens. Em 2006, o índice chegava a 15,6%. Em 2013 e 2014, foram gastos R$ 41 milhões com a compra de medicamentos utilizados no tratamento contra o tabagismo. O governo tem como meta reduzir a taxa para 9,1% de fumantes no país até 2020.

O caminho está em aplicar o tratamento adequado, personalizado, a cada um

Um total de 21% dos brasileiros se declara ex-fumante. Estes foram vitoriosos, mas, quando um paciente se esforça para parar de fumar, beber ou abandonar drogas mais pesadas e não consegue, pensa logo que é um fracassado. Geralmente, isso acontece quando não se tem certeza de querer realmente parar, ou quando a medicação não é adequada. É nessa hora que nós, os médicos, exercemos um papel estratégico, customizando o tratamento para cada paciente e incentivando-o a continuar.

Os dependentes do fumo, da bebida, do crack, da cocaína e por aí afora são indivíduos extremamente diferentes uns dos outros. Nos últimos anos, por exemplo, a prevalência do tabagismo em pacientes com transtornos de ansiedade aumentou. E o tratamento para eles não é o mesmo indicado para o fumante que não tem nenhum transtorno. O ser humano não é “padronizável”. Com o controle do alcoolismo, a receita é a mesma. No Brasil, 16% da população tem problemas com álcool. Entre esses, 40% sofrem de depressão e exigem um tratamento especial; não cabem na mesma fórmula que inclui os outros 60%.

Novos tratamentos para combater o fumo e o alcoolismo aparecem por todos os lados. Alguns acabam por se popularizar. É questionável, por exemplo, a tese de que o cigarro eletrônico ajuda no combate ao tabagismo. Sem acompanhamento correto, o paciente seguramente voltará a fumar. Sabemos que é melhor – ou menos pior – que o cigarro comum. Mas as pesquisas sobre seus benefícios ainda são preliminares.

Na psiquiatria voltada para o atendimento de pacientes dependentes de álcool e outras drogas, é quase um consenso que o caminho está em aplicar o tratamento adequado, personalizado, a cada um. E, em relação ao fumo, tanto a redução gradual do consumo do cigarro comum quanto a parada abrupta podem ser boas estratégias, eventualmente assistidas.

Dependência não se resolve com uma única receita. Nem com tratamentos e produtos e remédios milagrosos. Exigem do dependente algum desejo de se livrar do vício ou, no mínimo, de se tratar. E, da parte do médico, a capacidade de indicar o caminho certo, único para cada caso, para ajudar o paciente a se superar. E refazer a vida.

Analice Gigliotti, psiquiatra, é ex-presidente da Associação Brasileira de Estudo do Álcool e outras Drogas (Abead), chefe do setor de Dependência Química da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro e professora da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio.
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