De hoje até quinta-feira, Curitiba vivencia um momento raro e digno de comemoração: quatro universidades, em conjunto com a Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), colocam à disposição da indústria paranaense e brasileira seus projetos de pesquisa com potencial de inovação. É a I Mostra de Pesquisa e Inovação Universidade e Indústria, realizada nas dependências da Fiep. A Universidade Federal do Paraná, a Pontifícia Universidade Católica do Paraná, a Universidade Positivo e a Universidade Tecnológica Federal do Paraná se dão as mãos para, num gesto inédito e compartilhado, expor suas pesquisas, visando construir parcerias com empresas interessadas em desenvolver produtos ou processos com alto teor de inovação. Atitude que, além da proposta de parceria, representa também um grande avanço na construção da relação entre as universidades, com reflexo na qualidade e volume de projetos expostos, o que torna o evento ainda mais interessante ao setor produtivo.
Qual o motivo para a comemoração dessa parceria? Embora todos a considerem fundamental para o desenvolvimento tecnológico do país, há de se reconhecer a existência de barreiras culturais tanto do lado da universidade como da indústria, que dificultam a relação, mas que precisam ser superadas através do diálogo, cujo maior beneficiário será o Brasil. Principalmente quando sabemos que o progresso de nações desenvolvidas repousa, em grande parte, exatamente nessa relação. Exemplos de sucesso nesse tipo de parceria são fartos tanto em países desenvolvidos como entre os que buscam alcançá-lo, como é o caso da Índia e China. Existe exemplo mais perfeito do que o Vale do Silício ou a Rota 128 de Boston, onde centenas de indústrias ligadas à economia do conhecimento, hoje presentes em todo o planeta, resultaram da convivência entre pesquisadores de universidades (Universidade de Stanford, MIT) e indústrias e grandes laboratórios? Há uma lista interminável de exemplos de sucesso nesse tipo de parceria em todas as áreas.
E o Brasil como está nesse contexto? Vivemos um verdadeiro paradoxo. De um lado a nossa produção científica, gerada em sua grande maioria (95%) nas nossas universidades e medida pelo número de publicações indexadas, vem crescendo a cada ano. Em 2008 o Brasil publicou 30.145 artigos, num inacreditável salto de 56% em relação a 2007 passando a ocupar o 13.º lugar no ranking mundial. Por outro lado, a transformação desse enorme cabedal científico em bem-estar e riqueza está infinitamente distante de ser alcançada. Qual o motivo dessa distância e como superá-la?
Infelizmente, embora um sistema de pesquisa, sólido e bem-estruturado seja indispensável para o desenvolvimento do país, ele, de forma isolada, não consegue produzir inovação. Esta é a parte que falta acontecer no Brasil. Se o destino do conhecimento que produzimos se esgotar na publicação, o país continuará fornecendo preciosas informações para que outros países criem seus produtos com alto valor tecnológico, pelos quais teremos que pagar pesados ônus. Por outro lado, a universidade não tem vocação para cumprir essa função. Para transformar essa ciência em bem-estar e riqueza é indispensável a parceria com empresas, local por excelência da inovação. É na empresa que a pesquisa produzida nas universidades pode ser transformada em produtos com alto teor tecnológico agregado, como novos equipamentos, novos fármacos, novos processos. Exemplos dessa relação de sucesso no Brasil não faltam.
Esse é o grande objetivo da I Mostra de Pesquisa e Inovação Universidade e Indústria. Possibilitar que a academia, representada por pesquisadores de quatro universidades e a indústria, estabeleçam um diálogo frutífero. Serão apresentados mais de 50 cases de relação de sucesso entre a academia e a indústria, além de centenas de projetos de pesquisa com forte conteúdo inovador em todas as áreas do conhecimento. Temos certeza de que estamos inaugurando um novo tempo na relação universidade e indústria, com todas as vantagens que isso representa para o país.
Sejam todos bem-vindos.
Waldemiro Gremski é diretor de Pesquisa e Pós-Graduação da PUCPR.
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