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Você sabe o que França, Inglaterra e Alemanha têm em comum? Nenhum desses países adota urnas eletrônicas. Nos Estados Unidos, nos estados em que urnas eletrônicas são aceitas, elas necessariamente precisam imprimir o voto – isto é, diferem brutalmente das brasileiras. Você sabe o que Equador, Venezuela e Brasil têm em comum? Todos adotam o mesmo modelo de urna eletrônica, aquela que não imprime o voto, tornando assim impossível auditar o resultado das eleições.

Por que os países tecnologicamente mais avançados do mundo rejeitam o uso das urnas eletrônicas tais quais as adotadas no Brasil? O leitor já se fez essa pergunta? Tente responder! Nas democracias ocidentais desenvolvidas existe uma enorme desconfiança em relação ao Estado. Nenhum cidadão dessas democracias está disposto a abrir mão da segurança do pleito em troca de mais velocidade na apuração dos resultados. Claro que as urnas eletrônicas têm como sua principal vantagem a velocidade na apuração, mas essa vantagem não vem isenta de custos. No Brasil de hoje esse custo traduz-se na incapacidade de auditar os resultados. É impossível verificar se a vontade popular foi aquela mesma anunciada pelas urnas. Isso não é teoria da conspiração, é um fato. Caso as urnas eletrônicas imprimissem o voto, seria ao menos possível realizar tal checagem.

Quem fiscaliza a urna? O mesmo governo que violou sigilos fiscais e bancários de seus oponentes

Claro, o Estado brasileiro garante que a urna eletrônica é inviolável. Também é verdade que o Estado garante o sigilo dos dados na Receita Federal. Contudo, tais dados já foram violados no passado recente. Não custa lembrar que, há alguns anos, dados bancários de um caseiro, com conta na Caixa Econômica Federal, foram violados. Não faz muito tempo funcionários da Agência Brasileira de Informação (Abin) estavam trabalhando em operações não autorizadas (como na Satiagraha).

Dado que não temos acesso à programação das urnas eletrônicas, por motivos de segurança, quem fiscaliza isso? O mesmo governo que violou sigilos fiscais e bancários de seus oponentes. Por que devo confiar mais na urna eletrônica que na Receita Federal? Por que devo confiar mais na urna eletrônica que na Abin? Por que devo confiar em um governo que faz dossiês ilegais contra adversários políticos? Por que confiar em um governo que está envolvido em tantos escândalos sem fim? Nada me leva a confiar neste governo; por que deveria confiar na honestidade da urna eletrônica?

Na Alemanha, os nazistas usavam marcas de leite nas cédulas eleitorais para saber quem votava a favor ou contra o governo. Quem me garante que a urna eletrônica não faça o mesmo? Aliás, isso já foi feito – foi exatamente por violar o sigilo da votação no Congresso Nacional que os senadores José Roberto Arruda e Antonio Carlos Magalhães tiveram de renunciar. Ou seja, há alguns anos o sigilo da votação no Congresso Nacional já foi violado. Se no Congresso não se garante o sigilo, como se pretende garanti-lo no interior do país?

Em junho, a Câmara dos Deputados aprovou, por 433 votos a favor e sete contra, uma emenda obrigando as urnas eletrônicas a imprimir os votos. Tal modificação, caso seja mantida, propicia ao menos a possibilidade de checagem dos resultados eleitorais. A votação maciça em prol da impressão do voto mostra bem o grau de desconfiança em relação ao processo eleitoral atual. Nas eleições certamente cabe a máxima aplicada à mulher de César: não basta ser honesta, tem de parecer honesta.

Adolfo Sachsida é doutor em Economia e autor de Fatores determinantes da riqueza de uma nação e A crise de 2007-09: uma explicação liberal.
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