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Uma enfermeira se prepara para administrar a vacina Pfizer-BioNTech COVID-19 no Guy’s Hospital em Londres, em 8 de dezembro de 2020| Foto: Frank Augstein/AFP

Em 8 de dezembro, a britânica Margaret Keenan, uma senhora de 90 anos, recebeu a primeira dose da vacina Pfizer/BioNTech em um hospital em Coventry, na região central da Inglaterra. A fotografia do início do programa de vacinação em massa, executado de forma pioneira pelo Reino Unido, circulou pelo planeta.

Muitos têm se perguntado como e por que o Reino Unido venceu a corrida ocidental pela vacinação em massa. A resposta precisa será reservada à história. No entanto, certos eventos são administrativamente muito relevantes para serem deixados de lado. Em primeiro lugar, é preciso considerar que a vacina é produzida pela farmacêutica norte-americana Pfizer e a empresa alemã de biotecnologia BioNTech, em uma parceria entre Estados Unidos e Alemanha. Mesmo assim, nenhum desses países iniciou seu programa de vacinação ainda.

O Reino Unido veio à frente. Por óbvio, não se trata de um problema de produção da vacina, uma vez que os laboratórios da Pfizer/BioNTech têm unidades de produção tanto nos EUA quanto na Europa. Inclusive, incorporaram novas unidades na Suíça e na Bélgica, prevendo uma crescente demanda internacional.

O que ocorreu foi a agilidade da Agência Regulatória de Produtos Medicinais e de Saúde (MHRA), uma equivalente à Anvisa para o Reino Unido. Já em outubro, a MHRA iniciou o processo de revisão dos dados de testagem apresentados pela Pfizer/BioNTech e que resultou no anúncio de sua aprovação em 2 de dezembro. Seis dias após este anúncio, Keenan foi vacinada em Coventry. O Reino Unido já tinha 40 milhões de doses e um plano nacional de imunização pronto para serem implementados.

A agência europeia European Medicines Agency (EMA), equivalente à MHRA para a União Europeia, iniciou o processo de análise dos dados da Pfizer/BioNTech em outubro; no entanto, só irá divulgar os resultados em 29 de dezembro. Só após essa autorização, a comissão europeia irá se reunir e deliberar para autorização do programa de vacinação em toda União Europeia. Já a agência reguladora norte-americana, a US Food and Drug Administration (FDA), divulgou dados em 10 de dezembro e o programa de vacinação norte-americano deve começar no fim deste mês.

O que se pode deduzir da vitória britânica na corrida ocidental pela vacinação em massa? Em primeiro lugar, as apostas feitas em relação às vacinas que estavam sendo produzidas não se restringiram apenas a uma vacina. Nem mesmo a vacina da Universidade de Oxford foi colocada em primeiro plano. Em segundo lugar, um plano nacional de vacinação já estava montado para ser implementado no Reino Unido. Em terceiro lugar, a infraestrutura de armazenamento e distribuição detinha as condições prévias para execução do plano de vacinação em massa.

E o Brasil? A euforia, a cobrança e a necessidade humanitária para que um programa de vacinação seja implementado em cada município no Brasil tornou-se imprescindível. A pergunta que a população brasileira está se fazendo é: por que a morosidade na elaboração e execução do programa brasileiro?

Uma aposta contratual com a vacina de Oxford, que apresentou problemas nas etapas finais da testagem, atrasou o processo. Temos, ainda, a disputa que se estabeleceu entre o governo do estado de São Paulo e o governo federal em relação à vacina chinesa Coronavac. Some-se a isso a inexistência de um plano nacional de vacinação já desenvolvido em coordenação com estados e municípios.

Em síntese, a corrida pela vacinação passa, em primeiro lugar, pelo grau de sintonia política entre as unidades da Federação. Em segundo lugar, pela capacidade de prever cenários e estabelecer apostas contratuais em produtos que tenham maior chance de serem oferecidos para a população brasileira, sem amarras ideológicas. Em terceiro lugar, pela capacidade operacional que depende de anos de investimento em infraestrutura e logística. Nessa corrida, as decisões do presente e as decisões do passado deixaram os brasileiros no fim da fila.

André Frota é professor de Relações Internacionais e Geociências no Centro Universitário Internacional Uninter.

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