Em uma época que os bons exemplos são cada vez mais raros, nós praticamente torcemos pelas pessoas que aparecem com boas histórias: aquelas que inspiram e nos fazem repensar o nosso próprio cotidiano com ações que mudam o mundo. Esse foi o caso – até poucos dias – da professora de química Joana D'Arc Félix, cuja trajetória viralizou na internet. Uma história boa demais para ser real e, no fim das contas, realmente não era.
Valores essenciais, a honestidade e a sinceridade são desvirtuadas por atitudes assim: uma inversão de valores acontece a partir do momento que pessoas tidas como idôneas são reveladas como verdadeiros “charlatões”, aqueles que iludem as pessoas em troca do benefício próprio.
Temos o dever de criar bons exemplos quando trabalhamos com crianças
No caso da professora mencionada acima, o caso vai além: além de não ter um pós-doutorado em Harvard, como dizia seu Lattes, Joana foi condenada pela justiça de São Paulo a devolver R$ 369 mil à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) por não prestar contas de auxílios recebidos. É precoce julgar um caso ao qual não temos acesso a mais detalhes, mas o fato é que Joana se retratou publicamente por ter mentido sobre sua formação em Harvard.
Como tudo na vida, há ação e reação: a história da professora – que iria inclusive virar filme – foi desmascarada e, apesar de haver boas ações comprovadas na sua trajetória – como um projeto com crianças carentes –, o mito foi desfeito e paira até uma certa decepção, afinal, o povo brasileiro está cada vez mais carente de bons exemplos públicos.
Nós, como adultos, temos o dever de criar bons exemplos quando trabalhamos com crianças. Apesar de ser tentador sucumbir à mentira em alguns casos, a maior virtude que se pode ter nesses momentos é a de jamais deturpar os princípios mais básicos da lealdade e da ética.
Paulo Cruz: A mentira da doutora, o fetiche acadêmico e a missão da universidade (publicado em 21 de maio de 2019)
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Cabe a nós, pais e mestres, buscar um elo com nossos filhos que esclareça a importância de ainda acreditar no melhor do ser humano e, é claro, buscá-lo dentro de cada um de nós. Esses exemplos de idoneidade podem existir no cotidiano de diferentes formas: nas empresas, na empatia com os colegas; nas casas, com o bem-estar das famílias e a harmonia entre parentes. Enfim, praticar o bem é fácil e devemos mostrar aos mais jovens a importância disso para um mundo melhor.
Esther Cristina Pereira, presidente do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe-PR) e diretora da Escola Atuação.