O país não está dividido, rachado ao meio. O que temos é uma ampla maioria querendo mudança, e uma minoria organizada e barulhenta lutando pela manutenção deste governo incompetente, que afundou nossa economia numa depressão severa e produziu os maiores escândalos de corrupção de nossa história.

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Dito isso, parece claro que há um clima de muita revolta e indignação. Os nervos estão à flor da pele. Essa raiva tem sido útil para se enfrentar os truques dos governantes, dispostos a “fazer o diabo” para ficar no poder. O ambiente de guerra, em boa parte causado pelo próprio PT, serviu à união dos brasileiros cansados do cinismo e dos abusos do lulopetismo.

O denominador comum dessa imensa quantidade de gente, sem dúvida, é o antipetismo. Isso não quer dizer que não existam inúmeras divergências entre os vários grupos que lutam pelo impeachment. Se e quando Dilma realmente cair, o que parece provável, será preciso muito cuidado para não deixar os antagonismos anularem as possibilidades de avanço.

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O Brasil já terá no próprio PT uma oposição terrível, como sempre foi o caso até sua chegada ao poder. O partido deu todos os sinais de que não se importa com os brasileiros, que sua obsessão é mesmo pelo poder. Tentará, então, obstruir cada reforma necessária para recolocar o país nos trilhos.

O PT puxou muito para baixo o nível dos “debates”. Tudo se resume a uma retórica de vitimização

Impedir a continuação desse projeto nefasto de poder e estancar a sangria da economia são as duas metas imediatas. Após essa eventual vitória na batalha pelo impeachment, as lideranças políticas e intelectuais terão de demonstrar muita maturidade e patriotismo para reconstruir nosso país, hoje despedaçado pelo PT. O tom, enfim, terá de mudar.

O áudio que vazou do discurso de Michel Temer mostra que o vice-presidente compreende a necessidade de união, um bom sinal. Os formadores de opinião também terão um trabalho hercúleo para colocar panos quentes no clima de eterna revolta. Concessões terão de ser feitas, contemporizações serão necessárias, e aceitar com realismo que o ótimo é inimigo do bom será questão de maturidade democrática.

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O PT puxou muito para baixo o nível dos “debates”. Tudo se resume a uma retórica de vitimização, enxergando golpe de “elites” em todo lugar. Na verdade, um discurso falso para enganar os alienados de esquerda, que precisam alimentar essa visão de luta de classes totalmente sem sentido. A narrativa cínica dos petistas, os xingamentos, os ataques pérfidos, tudo isso levou o nível de nossos debates à lama.

Diante dessa realidade, não é fácil se controlar e evitar descer o padrão também. Eu mesmo reconheço que me excedi várias vezes nas redes sociais, tomado por uma revolta compreensível, mas prejudicial. Precisamos pensar o Brasil no futuro, voltar a discutir ideias, debater propostas de reformas estruturais sérias. O vale-tudo em que o PT colocou o Brasil, rompendo com as regras de civilidade, tem feito muito mal a esse objetivo.

Daí o apelo: vamos derrotar o PT logo, impedir o trágico destino venezuelano, para logo depois voltar a discutir ideias e reformas de maneira civilizada. O ódio é a política da esquerda radical. Os desafios serão enormes, pois teremos um país mergulhado em uma severa crise, com o PT na oposição tocando o terror, e um clima de desconfiança geral. Tudo isso sob um governo tampão sem muita credibilidade.

Temer não terá margem para errar e medidas “impopulares” serão necessárias. Que ele conte com o apoio cauteloso dos que desejam um Brasil melhor. Os obstáculos já serão grandes demais mesmo com isso. Serenidade é a palavra-chave aqui.

Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.