Somente um autêntico estadista escreveria de próprio punho, diariamente, sobre a vida político-administrativa do país, desde a eclosão da Revolução de 30. Escreveu Getúlio Vargas, no início do seu diário: “Se anotasse diariamente, com lealdade e sinceridade, os fatos da minha vida como quem escreve apenas para si mesmo e não para o público, teria um largo repositório de fatos a examinar e uma lição contínua de experiência a consultar. Que nos reservará o futuro incerto neste lance aventuroso”.

CARREGANDO :)

Com sua autoridade e patriotismo, Getúlio Vargas assegurou a unidade territorial do Brasil

Publicidade

E assim Vargas foi narrando, de 3 de outubro de 1930 até 30 de setembro de 1942; depois de sofrer, em 1.º de maio, grave acidente de carro, interrompeu suas anotações e sentenciou: “Dou por encerradas essas anotações. Por que continuá-las após tão longa interrupção? A revolta, o sofrimento também mudaram muita coisa dentro de mim”.

A Editora Siciliano e a Fundação Getulio Vargas publicaram os 14 cadernos manuscritos em dois volumes, com o título Getúlio Vargas Diário – o primeiro, com 575 páginas, e o segundo, com 682 páginas.

Com sua autoridade e patriotismo, Getúlio Vargas assegurou a unidade territorial do Brasil. Em 1930, as polícias militares gaúchas, de São Paulo e de Minas Gerais eram poderosas militarmente, porque podiam importar livremente equipamentos bélicos. Vargas tirou-lhes a autonomia e submeteu-as ao comando do Exército nacional. Os hinos dos estados eram cantados e cultuados acima do Hino Nacional, e as bandeiras estaduais sobrepujavam a brasileira. Getúlio promoveu a queima simbólica dessas bandeiras no Panteão da Pátria, no Rio de Janeiro. Depois da redemocratização, em 1945, os símbolos estaduais voltaram, mas sob a supremacia dos nacionais.

No seu primeiro mês de governo, em novembro de 1930, Vargas instituiu o Ministério do Trabalho e passou a editar decretos-lei instituindo a legislação social e trabalhista, a Justiça do Trabalho e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1.º de maio de 1938. O voto secreto, o direito de voto às mulheres e a Justiça Eleitoral tornaram-se realidade. A multinacional Itabira Iron, com imensas reservas de ferro, em Minas Gerais, foi nacionalizada, criando-se, em 1942, a Companhia Vale do Rio Doce.

Ao declarar guerra aos países do Eixo – Alemanha, Itália e Japão –, Vargas acertou com o presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt o fornecimento de equipamentos e financiamento para a construção da Usina Siderúrgica de Volta Redonda, fundamental para a emancipação econômica do Brasil.

Publicidade

A Revolução Constitucionalista de São Paulo, em 1932; a Intentona Comunista de 1935, liderada por Luiz Carlos Prestes; o Estado Novo de 1937; o ataque integralista ao Palácio Guanabara, onde residiam Vargas e a família, são mencionados em detalhes nas 1.257 páginas dos dois livros que contam o admirável diário de Getúlio Vargas. Promoções de militares, mudança de ministros, nomeação de interventores nos estados, enfim, toda a atividade governamental é minuciosamente contada neste documento único na história universal.

Eleito presidente em 1950, Vargas criou o BNDES, o Banco do Nordeste e fundou a Petrobras.

Em 24 de agosto, completam-se 61 anos do sacrifício extremo do inolvidável estadista, que deu um tiro no coração que tanto amou o povo brasileiro e disse, em sua Carta-Testamento: “Aos que pensam que me derrotaram, respondo com minha vitória... Saio da vida para entrar na história”.

Léo de Almeida Neves, ex-diretor do Banco do Brasil e ex-deputado federal, é membro da Academia Paranaense de Letras.