Muitas vezes, as pessoas têm uma visão enganosa de que vender uma empresa é um erro, um pecado. Isso vem provavelmente de uma percepção que as pessoas tinham antigamente de que uma companhia só era vendida em momento de dificuldade, crise ou até beirando um certo desespero. Trata-se de uma percepção patrimonialista, ultrapassada, mas ainda muito comum, principalmente em empresas familiares, que vêm passando de pai para filho ao longo de gerações e gerações.
Há muitas situações em que faz sentido e pode ser positivo vender a empresa, seja parcialmente ou mesmo 100% dela, tendo em vista benefícios que a operação pode trazer tanto para os sócios quanto para o próprio negócio. Os dois principais motivadores para uma boa venda são dar liquidez para os sócios atuais ou melhorar o desempenho da empresa com a entrada de um sócio. Ou, ainda, as duas coisas simultaneamente.
Dar liquidez aos sócios, na prática, significa receber antecipadamente os resultados que a empresa traria no futuro. Quando uma companhia é vendida, os donos trocam a possibilidade de obter um ganho no futuro (resultados esperados) pelo dinheiro no presente, por liquidez. Ou seja, transformam patrimônio (quotas ou ações) em dinheiro que pode inclusive ser investido em novas oportunidades de negócio e ser multiplicado.
No caso de uma venda parcial, ou seja, a entrada de um novo sócio, esse pode contribuir bastante para a melhoria do desempenho da empresa. O benefício pode ser não só a injeção de capital na companhia, mas também a incorporação de habilidades complementares, tais como tecnologias mais avançadas, acesso a novos mercados, capacidade de gestão e governança corporativa etc. Isso aumenta a perspectiva de geração de caixa no futuro, fazendo com que, após o investimento, a parcela da empresa que permanece com os sócios originais valha mais que os 100% que eles detinham anteriormente.
Independentemente do tipo de operação, uma boa venda é aquela feita no momento adequado, com maximização de valor para o vendedor e com um estrutura de transação que proteja e garanta a captura de valor pelos sócios. Perspectivas de crescimento de receita e margens, existência de diferenciais competitivos e atuação em mercados com potencial de crescimento e consolidação são exemplos de indicadores de um bom momento para a venda. A maximização de valor e proteção para o vendedor são resultados naturais de um processo conduzido de forma profissional e estruturada, o que pode ser obtido com o apoio de assessores financeiros e jurídicos. Os assessores vão garantir que se extraia o máximo de valor da negociação e que os sócios estejam devidamente protegidos contratualmente em temas como direitos e deveres na sociedade, regras de saída do negócio, responsabilidade por contingências, diluição, futuros aportes de capital etc., além de evitar a exposição desnecessária dos sócios ao longo da negociação.
Enfim, para quebrar paradigmas, vale lembrar que a abertura de capital (IPO) nada mais é que a venda parcial de uma empresa: trazer um aporte financeiro através da entrada de sócios, visando contribuir com um maior desenvolvimento da empresa. Nem por isso tem-se a percepção de que companhias que vão para a bolsa estão cometendo erros. Então, muito diferente de um pecado, fazer uma boa venda da empresa é uma grande virtude.
Marcos Hiran V. L. Silva, sócio da Cypress, butique financeira especializada em assessorar empresas na realização de operações estruturadas, fusões e aquisições, e IPOs.