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Há algum tempo a mobilidade urbana está na lista de prioridades dos governantes. Inúmeras cúpulas, debates e ações para discussão do tema já foram levantados e a conclusão é sempre a mesma: o sinal amarelo está aceso.

O cenário é diretamente proporcional à produção da indústria automobilística. Mas desleal se comparamos a publicidade produzida pelas indústrias de carros com as campanhas educativas e de estímulos aos meios alternativos de transporte – a grande resposta ao caos do trânsito.

E, entre o motorista engarrafado e a quarta maior frota de carros do planeta, está o governo. Ao mesmo tempo em que ele oferece subsídios e benefícios irrecusáveis para os fabricantes de veículos, responsáveis por uma fatia notável da movimentação econômica, precisa prover estrutura para esses veículos circularem.

Claramente o tempo da indústria não é o mesmo da burocracia estatal. Não se discute aqui má vontade ou mesmo corrupção, que, sem dúvidas, têm responsabilidade na lentidão do processo. Trata-se de um mecanismo muito mais complexo, totalmente estratificado concorrendo com um setor extremamente ágil – a velocidade com que a indústria tende a oferecer bens de serviço é sempre maior do que a capacidade do governo de absorver.

O que se colhe disso é o agravamento dos congestionamentos nos grandes corredores de tráfego, resultado do aumento da frota de veículos e poucas obras visando reduzir os gargalos do trânsito. Esses gargalos, que antes aconteciam apenas na hora do rush, agora são observados durante o dia todo.

É preciso lançar mão de todas as ferramentas disponíveis ao gerenciamento do setor de trânsito: tecnologia, fiscalização, leis e educação. Locomoção com rapidez e qualidade encabeçam a lista de ações a serem desprendidas: precisamos de projetos definitivos de transporte coletivo seguros, em grande oferta e que possibilitem integração da cidade toda. Como convencer o motorista a deixar seu carro em casa e pegar um ônibus se o sistema não oferece a ele condições básicas de circulação?

Paralelo a essa situação do transporte coletivo, estão a educação e a conscientização. As cidades parecem sofrer de um desânimo quando o assunto é o estímulo a programas de carona solidária, rodízio de carros e o polêmico pedágio urbano. Já está na hora de encarar que essas medidas são irreversíveis.

O pedágio urbano, muito bem-sucedido em cidades como Lon­­dres, Cingapura e na Suécia inteira, faz-se absolutamente necessário nos grandes centros urbanos. O posicionamento de alguns defensores da proibição do sistema de pagamento pela circulação em locais de grande concentração mostra a visão atrasada que ainda se tem do tráfego no país.

É uma incoerência impedir essa ferramenta, conservando o caos nesses espaços, geralmente centrais. A solução é o uso de tecnologia bastante intenso, permitindo planejamento e reação rápida – a tecnologia integrada para a gestão do trânsito e do transporte. Por meio da fiscalização para controle do uso de veículos obtem-se ganhos na diminuição de acidentes, no reforço ao comportamento correto do motorista e no incentivo ao uso do transporte público ou alternativo.

A indústria destina verbas milionárias para as campanhas de marketing e peças publicitárias: tudo para manter o consumidor fiel e alimentar o conceito de que ter um carro é sinônimo de status. Mudar essa ideia requer esforço coletivo e colaboração da sociedade. Por causa dos fortes apelos ao uso do carro, boa parte das pessoas que poderia usar transporte coletivo não usa. Assim, haverá sempre uma quantidade crescente de veículos nas ruas.

A chave está na amplitude da visão: no trânsito não existe apenas o motorista ou o ciclista ou o pedestre. É um projeto global, com todas as suas partes extremamente interligadas. Vender essa ideia é o desafio.

José Mario de Andrade é diretor de Negócios Internacionais da Perkons, empresa especializada em tecnologia para a segurança e gestão integrada de tráfego

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