| Foto: Robson Vilalba/

A Venezuela é uma dor em comum. Ou, pelo menos, assim deveria ser. O panorama que apresenta este país, em especial no que diz respeito aos direitos humanos, é extremamente grave. A repressão e a violência nas manifestações não são novidade. Nos últimos dois meses morreram 71 pessoas. De acordo as ONGs locais, mais de 300 pessoas foram levadas – inclusive coletivamente – aos tribunais militares. Estas pessoas foram acusadas de crimes ambíguos como “traição”.

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No âmbito legal civil, estão previstas as garantias constitucionais de que os cidadãos desfrutam quando em pleno exercício dos seus direitos. A Justiça Militar está destinada aos militares. Os cidadãos comuns devem ser naturalmente julgados pela Justiça comum. A Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) disse, sobre a Venezuela: “quando os tribunais militares assumem a jurisdição sobre um assunto que cabe aos tribunais comuns, o direito a um juiz civil se vê afetado, bem como o devido processo, que está de modo íntimo ligado ao direito em si de acesso à Justiça”.

Outras das irregularidades gravíssimas que atingem os direitos humanos dos venezuelanos e das venezuelanas são as detenções arbitrárias. Assim constatou a Anistia Internacional no relatório denominado “Silêncio através da força: detenções arbitrárias por motivos políticos na Venezuela”. O documento fornece dados sobre uma série de medidas ilegais tomadas por autoridades da Venezuela no intuito de reprimir a liberdade de expressão. As denúncias incluem as detenções sem ordens judiciais por parte do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin); o processamento de delitos “contra a pátria”, de “terrorismo” e inclusive a imputação de delitos de caráter militar contra civis; a imposição de medidas de prisão para que a ausência de liberdade continue, o desacato das ordens de libertação por parte daqueles que mantêm a custódia dos presos, entre outros exemplos.

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Entre os diversos casos documentados está o de Marcelo Crovato, um argentino-venezuelano detido em Caracas no dia 22 de abril de 2014, quando prestava assessoria legal a um casal em cuja casa ocorria um mandado de busca. A detenção deste homem se baseia em uma série de irregularidades, com a agravante de que ele sofre graves problemas de saúde, a ponto de haver tentado o suicídio em duas oportunidades. Em fevereiro de 2015, foi-lhe concedida a prisão domiciliar. Faz três anos que Crovato está detido sem julgamento nem sentença. A audiência preliminar, que conforme o Código Penal da Venezuela deve ocorrer aos dois meses de detenção, foi adiada 40 vezes. Mesmo que o governo argentino tenha manifestado diversas vezes sua preocupação com a situação venezuelana, não fez nada no caso de Crovato.

Países do Mercosul suspenderam a Venezuela do bloco, sem apresentar ao país uma alternativa que permita ajudar a promover uma saída pacífica e respeitosa aos direitos humanos para esta crise.

Diversos países integrantes da Organização dos Estados Americanos (OEA) e funcionários de vários governos declararam que são escandalosas as irregularidades e as faltas de garantias que imperam em Caracas. Há poucos dias, no México, os países-membros da OEA se reuniram na 47.ª Assembleia Geral. No entanto, não foram capazes de chegar a um consenso quanto a uma declaração sobre a Venezuela.

É inegável que, dia após dia, chegam a diversas cidades latino-americanas migrantes venezuelanos à procura de um futuro melhor. As Américas devem se unir para tornar melhor a vida dos venezuelanos, dentro e fora da Venezuela. A Anistia Internacional confia que esta mensagem de união seja possível. A cada dia a demora torna os direitos mais vulneráveis.

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Mariela Belski é diretora-executiva da Anistia Internacional na Argentina.