Passa pelo Norte do Paraná a Comissão da Verdade, menos a investigar do que a revisitar os crimes da ditadura, como sempre esquecendo dos crimes dos partidinhos de esquerda que pregavam a luta armada, do mesmo modo que armados os militares tomaram o poder.

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Também nunca fazem qualquer referência à meta comum a todos aqueles partidinhos, que era a troca da ditadura militar de direita por outra ditadura, de esquerda, com o socioso nome de "ditadura do proletariado", mas que seria, na verdade, como em Cuba, na União Soviética, na China e tantos países fracasssados econômica e moralmente, também ditaduras sustentadas militarmente, pois socialmente o que houve (ou ainda há) é só pobreza e privilégios sob o socialismo autoritário.

Entoam louvores a militantes que conheci e que eram verdadeiros "porra-loucas", como a gente dizia, aqueles tão imprudentes e ousados que pareciam procurar a morte ou prisão. Um deles, entusiasmado com os roubos de bancos nas capitais por grupos da "luta armada", me convidou para assaltar uma gráfica, que trabalhava nos fins de semana e no domingo à noite e teria muito dinheiro no cofre. E como iríamos abrir o tal cofre, perguntei, ou iríamos levá-lo nas costas? Ele ficou me olhando, confuso: não tinha pensado nisso.

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Nosso partidinho pretendia montar guerrilha nalgum sertão, e dali incendiar o país como na Revolução Cubana. Imagino o triste destino do Brasil se tivéssemos sucesso. E nosso líder estudantil naquele delírio era José Dirceu, hoje supremamente condenado por corrupção.

Enquanto isso, a família do recruta Mário Kozel Filho, morto a bomba pela VPR (a "Vanguarda" "Popular" "Revolucionária", de Dilma Rousseff), continua recebendo uma merreca de indenização, em comparação com os "heróis" de esquerda; Mário é só exemplo de outras injustiças pró-esquerda.

A verdade é que a direita também tinha suas convicções – o que não justifica a tortura – e a esquerda também cometeu seus crimes, que igualmente deveriam ser lembrados se a Comissão fosse mesmo da Verdade inteira e não só da metade.

E enoja ver tratados como heróis militantes que, se tivessem vencido, decerto teriam instalado aqui os paredões e o genocídio "revolucionários" dos marxistas-leninistas – entre os quais também estive, mas, graças a Deus, tirei as traves dos olhos e vi que aquela luta não teve mocinhos de ambos os lados.

Domingos Pellegrini é escritor e colunista da Gazeta do Povo.

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