Anualmente, o IMD (International Institute for Management Development, ou, em português, Instituto Internacional para Desenvolvimento Gerencial) divulga um índice de competitividade global. Publicado pela primeira vez em 1989, o IMD World Competitiveness Yearbook (ou o Anuário IMD de Competitividade Global), tornou-se um ponto de referência não apenas sobre a competitividade dos países, mas também uma fonte de estatísticas e dados variados baseados numa extensa pesquisa. O relatório leva em conta temas como produtividade, questões políticas, sociais, culturais e aspectos de governo. De acordo com o IMD, uma boa análise sobre competitividade não pode resumir-se ao Produto Interno Bruto (PIB) e produtividade de uma nação, uma vez que há muitos outros aspectos que devem ser levados em conta.
Na edição mais recente da publicação, o Brasil amargou o 60º lugar entre 64 nações. Na edição do ano passado, fomos o 59º entre 63 países. No topo do ranking, encontram-se países como Dinamarca, Irlanda, Suíça, Singapura, Holanda, Taiwan, Hong Kong, Suécia, Estados Unidos e Emirados Árabes. Esses são, sem exceção, países de economia aberta e livre, nos quais os gastos do governo são controlados e o Estado participa apenas de áreas essenciais, como saúde, educação e segurança. Ao contrário do Brasil, essas nações não possuem uma imensa lista de empresas estatais, nem contribuem para a própria desigualdade ao remunerar sobejamente uma pequena casta de privilegiados que se servem da coisa pública.
É lamentável perceber que os últimos governos – independentemente de posicionamento – não demonstraram grandes esforços em melhorar os pilares básicos que nos tornariam competitivos.
Além disso, o Brasil fica atrás de países como a repressiva Arábia Saudita (17º lugar), China (21º lugar, embora tenha um governo autoritário, é mais economicamente livre do que nós), Estônia (26º), Malásia (27º), Cazaquistão (37º), Romênia (48º), Peru (55º lugar, apesar dos muitos problemas políticos) e Botsuana (59º). Noutras palavras, o Brasil só ganha de África do Sul, Mongólia, Argentina e Venezuela.
Mas afinal, o que é ser competitivo? Pode-se entender a competitividade como a capacidade de – seja uma empresa, um profissional ou mesmo um país – alcançar e manter uma posição vantajosa em relação aos concorrentes num dado ambiente. Em termos nacionais, a competitividade mede-se – dentre outros fatores – pela capacidade de gerar empregos, atrair investimentos, crescer economicamente e sustentar uma vantagem nesses aspectos em relação aos demais países do globo.
Dentre os principais aspectos que tornam uma nação competitiva, estão a infraestrutura – e aqui entra a qualidade de rodovias, portos, aeroportos, energia e telecomunicações –, a educação e capacitação em todos os níveis de ensino, um ambiente de negócios favorável com pouca burocracia e carga tributária baixa, inovação e pesquisa para geração de novas tecnologias, acesso a mercados internacionais por meio da abertura comercial e eliminação de barreiras ao comércio, estabilidade macroeconômica e recursos naturais e humanos que permitam o crescimento.
Ao compreendermos os pilares mais importantes que tornam um local competitivo, entende-se a vergonhosa posição brasileira. De acordo com ranking do próprio IMD, ocupamos a última posição entre 63 países em aspectos educacionais – uma catástrofe que nenhum dos últimos governos pareceu preocupado em reverter. É certo que um país com uma educação precária não possui recursos humanos qualificados o suficiente para ser competitivo, uma vez que a qualificação da força de trabalho é fundamental. A Conference Board, organização estadunidense composta por mais de 1.000 empresas e com pesquisadores em mais de 60 países, concluiu que para produzir o mesmo que um estadunidense são necessários quatro brasileiros. Colocando de outra forma, levamos uma hora para produzir o que os vizinhos do norte produzem em 15 parcos minutos. Naturalmente, a qualificação da força de trabalho é uma das justificativas dessa abissal diferença.
Em termos de ambiente de negócios e burocracia, a situação não melhora. O Banco Mundial, que continuamente elabora o ranking Doing Business (ou, fazendo negócios) apontou que em termos de burocracia o Brasil é o 124º entre cerca de 190 nações. No que diz respeito aos aspectos tributários, estamos na 184ª posição, sendo que as empresas brasileiras precisam dedicar quase 1.500 horas de trabalho para processarem seus tributos (10 vezes mais do que uma empresa chinesa).
Embora a competitividade de um país seja um processo contínuo e complexo, que requer ações coordenadas em várias áreas, é lamentável perceber que os últimos governos – independentemente de posicionamento – não demonstraram grandes esforços em melhorar os pilares básicos que nos tornariam competitivos. Pelo contrário, aumentam-se à exaustão os gastos de um Estado já inchado e ineficaz em benefício de uma reduzida elite nos três poderes. Ou seja: enquanto estivermos deitados eternamente em berço esplêndido, continuaremos sendo o país de um futuro que nunca chega.
João Alfredo Lopes Nyegray é doutor e mestre em Internacionalização e Estratégia. Especialista em Negócios Internacionais. Advogado, graduado em Relações Internacionais. Coordenador do curso de Comércio Exterior na Universidade Positivo (UP).