O autor e estadista alemão Johann Goethe (1749-1832) foi um indivíduo ilustre e escreveu obras famosas da literatura, como Os sofrimentos do jovem Werther, de 1774. Goethe ganhou notoriedade e prestígio intelectual, mas mantinha consigo a ideia de que nenhuma riqueza ou grandiosidade é capaz de superar a felicidade de possuir uma família simples que vive em paz – ainda que em meio a tribulações: “É o homem mais feliz, seja ele rei ou camponês, aquele que encontra paz em seu lar”, escreveu.
Contudo, nem sempre a paz ou outros valores espirituais como o amor, a bondade e a misericórdia são colocados como verdadeiros distintivos de uma coisa que se diz ser grande, sejam conquistas pessoais como de Goethe, sejam construções monumentais. Grandes – entendemos conforme nosso costume de focalizar nas aparências – são as coisas que têm impacto visual, qualidade estética ou engenhosidade poderosa. Mas seria assim mesmo? A lição que desejo transmitir aqui é a de que nenhum ornamento material ou louvor humano tem valor sem o direcionamento e controle de gerenciadores que buscam uma vida piedosa conforme Jesus Cristo.
No capítulo 13 do Evangelho de São Marcos, lemos a respeito do sermão profético de Jesus Cristo sobre a destruição do templo. Está assim registrado: “Ao sair Jesus do templo, disse-lhe um de seus discípulos: Mestre! Que pedras, que construções! Mas Jesus lhe disse: Vês estas grandes construções? Não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada”. O templo referido no diálogo entre Jesus e o discípulo não identificado é o construído por Herodes, o Grande. Tratava-se da “estrutura maior e mais magnífica do mundo antigo, sendo duas vezes maior que o Templo de Salomão”, conforme escreve Craig S. Keener. Na época em que Jesus proferiu esse discurso, o templo ainda continuava em construção, tamanha era sua exuberância e investimento.
Para muitos judeus, o templo era considerado indestrutível. No entanto, no ano 70 d.C. os romanos o destruíram definitivamente, cumprindo-se a profecia de Jesus que Deus havia de julgar as autoridades do templo pela hipocrisia e impiedade, apesar da beleza fabulosa e inigualável da construção. O que Jesus nos ensina nessa porção das Escrituras é que, enquanto da perspectiva humana muitas vezes a bela aparência é o suficiente, na perspectiva divina nada é tão importante quanto a pureza interna. “Todas as construções podem ser grandes aos olhos dos homens, mas se há iniquidade estão fadadas à destruição”, disse o reverendo Azael Araújo.
Portanto, quando você contemplar grandes construções, quando sonhar com escritórios finíssimos, quando se impressionar com grandes catedrais e igrejas históricas, quando estiver em uma casa enorme ou quando vir um monumental palácio, tome cuidado com uma impressão apressada e superficial; lembre-se: a glória dessas coisas não está no aspecto estético (ainda que esse seja importante e lícito), mas na pureza de vida e na prática piedosa de seus frequentadores, cuidadores e gerenciadores. Devemos vigiar para que não venhamos a nos vangloriar de nossa condição material e temporal e nos esquecer da espiritual: “Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu” (Apocalipse 3,17).
Muitos se impressionam com a riqueza e a ostentação de políticos instalados em prédios enormes. Estes devem se recordar que os maiores escândalos políticos no Brasil, envolvendo roubos e lavagem de dinheiro de 30 anos pra cá, e que foram (e estão) sendo descobertos por operações especiais, ocorreram exatamente nesses prédios e escritórios de alta tecnologia.
Outros muitos se impressionam com a beleza arquitetônica de igrejas e catedrais históricas. Martinho Lutero, por sua vez, liderou a Reforma Protestante em uma época na qual o papismo já havia se estabelecido e construído grandes e belíssimas catedrais. Em 1520, Lutero escreveu seu célebre Do Cativeiro Babilônico da Igreja, em que denuncia os graves desvios doutrinários de Roma envolvendo a fé e a salvação dos fiéis. Grandes construções não valem de nada sem o temor do Senhor e o amor à sua Palavra.
Existem, ainda, aqueles que se derretem diante de mansões e casarões. O sábio rei Salomão, porém, escreveu que é “melhor morar num canto de eirado do que junto com a mulher rixosa na mesma casa” (Pv 21,9). Na sabedoria bíblica, a estrutura de uma casa – sendo ela mansão ou uma quitinete – não é de grande importância. O essencial é um lar onde haja diálogo, carinho e gratidão, ainda que seja pequeno e com algumas infiltrações.
Recentemente, terminei de assistir à série The Crown, de Peter Morgan, para a Netflix. A série narra a história biográfica do reinado de Elizabeth II do Reino Unido, especialmente os bastidores diplomáticos e afetivos da família real. As cenas ocorrem, em grande parte, no Palácio de Buckingham, onde a rainha trabalha formalmente. E, apesar de ser um palácio gigantesco, suntuoso, com tudo o que se pode desejar ter, guardado, cuidado e organizado de forma impecável, o que se descobre é que dentro desse palácio mora uma família desestruturada, mergulhada em conflitos incessantes envolvendo orgulho, arrogância, inveja, traição, mentiras, libertinagem, indiferença e insensibilidade.
Vês, então, essas grandes construções? E de que valem sem o amor, sem a fé em Cristo, sem a obediência à Sua voz? De que serve um Cristo Redentor numa cidade marcada pela criminalidade? De que vale uma Torre Eiffel em uma país dominado pela desintegração social e moral? De que serve um Domo da Rocha ou uma mesquita que reúne fanáticos prontos a matar um “inimigo da fé”? Pra que fim aponta uma Estátua da Liberdade numa nação cujo direito de nascer é ameaçado pela política abortista? E que coerência tem um país cercado por uma Grande Muralha de proteção, mas cujos cidadãos são feitos reféns de um partido perseguidor da liberdade religiosa?
Fernando Razente é historiador com atuação em rádio, assessoria e mídia.
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