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Requião e Pessuti representam, em termos políticos, a es­­tratégia dos policiais que trabalham em dupla, o bad cop-good cop, em que um é durão, irascível, intolerante e o ou­­tro é paciente, risonho, de bem com a vida e com os outros

Os vice-alguma coisa são figuras singulares: sua função, normalmente, se resume a ficar pacientemente no banco, até que algo aconteça para que sejam chamados a entrar em campo. Em alguns lugares do mundo, ficam eternamente no rol dos reservas, a não ser em casos excepcionalmente dramáticos, como foi o assassinato de John Kennedy e a renúncia de Richard Nixon. No Brasil, porém, o cargo de vice deve ser levado muito a sério, pois, se fizermos a conta direito, veremos que fomos governados por vices durante boa parte das últimas décadas. João Goulart era vice, José Sarney era vice, Itamar Franco era vice.

Alguns são chamados para completar mandatos deixados pela metade por políticos que vislumbram a oportunidade de voos mais altos: é o caso de Luciano Ducci em Curitiba, outros para possibilitar a migração dos ex-titulares para outros cargos eletivos, como é o caso de Orlando Pessuti. Outros, para apagar incêndios institucionais como Parigot de Souza, que assumiu o lugar de Haroldo Leon Peres depois das trapalhadas financeiras em que este se meteu e que lhe valeram a cassação branca.

O papel do vice é sempre penoso: se é discreto demais, passa por omisso, se é independente e atuante, passa a ser hostilizado pelos apoiadores de seu antecessor. Poucos podem se dar ao luxo de declarar, como Hosken de Novaes, que seu papel como vice era recolher-se à sua insignificância. Ora, insignificante era o que o Doutor Hosken, brilhante jurista e homem público de carreira irretocável, definitivamente não era. Talvez por isso pudesse usar a frase de espírito, exatamente para minimizar a importância do cargo em sua biografia, já rica por outras conquistas.

Outros são acusados de atuar demais.

Aureliano Chaves, que substituiu João Batista Figueiredo durante um período em que este esteve afastado para tratar da saúde, mostrou desde o primeiro dia que não estava no exercício do poder para esquentar a cadeira, e rapidamente teve seu estilo dinâmico comparado à abulia de seu antecessor, o que lhe rendeu dissabores sem fim por parte dos áulicos do nosso último presidente militar.

Agora é Orlando Pessuti que recebe uma saraivada de críticas de seu antecessor, irritado com a inevitável comparação que os jornalistas e os políticos fazem dos dois estilos de governar. Requião e Pessuti representam, em termos políticos, a estratégia dos policiais que trabalham em dupla, o bad copgood cop, em que um é durão, irascível, intolerante e o outro é pa­­ciente, ri­­sonho, de bem com a vida e com os outros. Para o mo­­mento que vivemos, o estilo bonachão de Pessutti vai ser muito útil, pois o estilo conflituoso de Requião – independentemente dos méritos eventuais que suas posições tivessem – é recebido com alí­­vio pelos interlocutores. E quem sabe, consiga recompor algumas simpatias na área federal e nos meios políticos, indispensáveis para conseguir avanços reais em questões cruciais para o Paraná, como essa abjeta multa que nos é imposta na questão dos títulos podres, que o Banco Central obrigou o estado do Paraná a herdar, quando preparou cuidadosamente o Banestado para ser privatizado.

Meu modelo de vice ideal? José Alencar, exemplo de caráter, de fortaleza de espírito e de bonomia. Só um grande homem é capaz de se esquecer das agruras de um câncer persistente, para se envolver em um diálogo hilariante com um bandido que queria lhe passar o golpe do sequestro de um parente. Um personagem vivo para George Santayana, que dizia que "o moço que não chora é um selvagem, o velho que não ri é um tolo". Apesar de ter todas as razões para chorar, José Alencar é capaz de rir, sinal claro de sua sabedoria. Longa vida "Cumpadre Alencar".

P.S.: Morreu Nice Braga, uma mulher excepcional, que personificou o perfeito equilíbrio entre a discrição, a elegância, a doçura na conduta e a firmeza de seus valores humanísticos de solariedade aos que mais sofriam. Perdi uma leitora muito querida e admirada por mim.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professordo Doutorado em Administração da PUCPR.

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