Uma vigorosa transformação nas escolas de educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental ocorreu nas duas últimas décadas. E o melhor, uma expressiva valorização parte dos pais, enquanto no passado era recorrente a frase: "Ah, meu filho vai para o jardim só para brincar". Hoje, dispondo de estatísticas da Unesco, 65% das crianças brasileiras frequentam a pré-escola, belo índice, pois é similar ao dos países com elevado grau de desempenho educacional. Um estudo da Fundação Getulio Vargas, recentemente divulgado, concluiu que os meninos e meninas que fizeram a educação infantil, ao chegarem ao 5.º ano se diferenciaram significativamente em conhecimento e capacidade de aprendizagem, especialmente em Matemática e Português. Convicto estou, depois de 43 anos de atividade profissional em todos os níveis de ensino, de que, se somente em uma fase escolar fosse me dada a opção de colocar meu filho em uma instituição de excelência, não titubearia: não seria na universidade, nem tampouco no ensino médio, mas sim na faixa etária dos 3 aos 8 anos.
Referindo-se à aprendizagem, é comum ouvir que a criança é uma "esponjinha", pois absorve e retém tudo com muita facilidade quando estimulada. É uma das fases de melhor desenvolvimento neuropsicomotor. Aos 5 anos, a meninada deve estar inserida em um ambiente alfabetizador, num alegre convívio com o mundo das letras. Pais, controlem, no entanto, a ansiedade e evitem comparações: cada menino ou menina tem seu ritmo! Alfabetizar precocemente não significa alfabetizar melhor. A alfabetização e o letramento são processos; não se deve estabelecer uma série como a série da alfabetização e do letramento, mas sim um percurso de enlevo e concomitantemente de estímulo às práticas de leitura, escrita e oralidade.
Por volta dos 6 ou 7 anos, o nosso Einsteinzinho começa a desenvolver o raciocínio lógico, que o habilita a participar de jogos e brincadeiras com regras mais elaboradas. É uma atividade lúdica e um rito de passagem ao maravilhoso universo da Matemática.
Em décadas passadas, as brincadeiras eram compartilhadas com os irmãos, primos e vizinhos, nos quintais, ruas e parques. Hoje, o filho convive essencialmente com adultos, pequenos animais de estimação, tem acesso a shoppings, games, tevês, tablets. Essa postura sedentária e a ingestão sem controle de guloseimas ou excesso de alimentos no âmbito das famílias são as principais justificativas do contingente de 40% de nossas crianças com sobrepeso.
No ambiente escolar, os aluninhos passam por atividades enriquecedoras: compartilham experiências, cooperam entre si, ampliam o vocabulário, interagem com os coleguinhas, aprendem as regras de convivência no coletivo. E não menos importante: são iniciados aos valores éticos e ao respeito à diversidade, ao meio ambiente, à hierarquia e aos horários, bem como incorporam bons hábitos alimentares. São requisitos indispensáveis para o desenvolvimento da autonomia, do autoconhecimento e da identidade, preparando-os para as fortes exigências futuras e contribuindo para a formação de adultos com boas relações sociais, familiares e profissionais.
Jacir J. Venturi, professor, autor de livros e presidente das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR).
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