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Os antigos diriam que ele é rempli de soi-même, recheado de si próprio; os mais modernos, que ele "se acha" ou que pensa que é a última jujuba vermelha do pacote ou a última Coca-Cola no deserto. É claro que estou falando de Carlinhos Brown, o performático baiano, com sua ridícula "invenção" de um instrumento musical para atazanar os ouvidos dos espectadores dos jogos da Copa das Confederações e do Campeonato Mundial. Brown consegue levar os mais crédulos a acreditar que tudo o que faz tem valor cultural único, sempre envelopado em explicações sociológicas convolutas e rebuscadas (a presidente Dilma não encontrou componentes transcendentais na tal caxirola?), a demonstração cabal de que antes dele só existia a barbárie e depois dele inevitavelmente virá o dilúvio. Pano rápido – como diria Millôr Fernandes – depois do fiasco da primeira apresentação da traquitana, que se transformou em projétil nas mãos de torcedores indignados com o desempenho de seu time, com o juiz, com o jogo ou com tudo isso junto.

Retornemos à nossa província onde – esta sim – uma ideia com o brilhantismo da simplicidade ressuscitou um defunto insepulto, o nosso Passeio Público, há muito abandonado como destino de lazer dos curitibanos e que recebeu milhares de pessoas em um só dia. Começa pelo título, uma sacada imperdível que brinca com as consagradas Viradas Culturais existentes em vários lugares. Onde se chama salsicha de "vina" senão em Curitiba? Qual é o melhor amigo dos curitibanos famintos? Não é a pizza dos paulistas, os acarajés dos baianos, o tacacá dos paraenses. É ele, o cachorro-quente (com duas vinas e verde de preferência) que não deve ser confundido com o mero e vulgar "hot dog" das cadeias de fast-food. A regata de pedalinhos, comandada por competentes comodoros (pertenço espiritualmente à Gran Armada do Almirante Dante Mendonça) lembrou-me dos tempos saudosos em que Adriana e Carolina eram pequenas e o Passeio Público era parada obrigatória aos sábados para brincar no parque infantil e dar pipoca para as araras antes que esse último hábito fosse transformado em crime ambiental por algum ecochato mal-amado.

Agora se anuncia o encontro do Amigo da Onça para celebrar a nossa incomparável Carne de Onça. Que steak tartar, mett ou hackepeter que nada. Isso fica para os esnobes. A carne de onça triunfará da mesma maneira como a Vinada. (Serviço: o Carlos Roberto Antunes dos Santos tem uma relação dos botecos onde se come o melhor dessa especiaria em Curitiba).

E então vêm os meninos da PUC do Rio que ganharam um campeonato internacional de robôs, um feito notável para um país que tem pouca tradição de inovação em mecatrônica. O robô mostra sua brasilidade sapateando freneticamente como um passista de escola de samba e faz esquecer que para chegar até isso é preciso muito tutano e muita ciência.

Pois é, são três facetas da cultura no Brasil. A caxirola, saudada em prosa e verso e promovida na mídia como um produto cultural único a destilar brasilidade, é a quintessência do pernosticismo e do amadorismo inconsequente próprios de quem se leva a sério demais e assim se torna grotesco. A Vinada Cultural representou uma valorização bem-humorada de nosso curitibanismo, a demonstração de que mesmo os que têm fama de sisudos como nós são capazes de fazer graça à sua própria custa. E o robô sapateador dos meninos e meninas da PUC do Rio prova que somos capazes de fazer coisas sérias e temperá-las com o bom humor que o bom Deus distribuiu com largueza nessa terra abençoada por Ele e bonita por natureza.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR.

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