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Os "meninos" do Quinteto são capazes de dar um exemplo do que desejamos, tanto na arte quanto em outros aspec­­­tos da sociedade

No último fim de semana, Brasília teve o privilégio de assistir a um espetáculo do Quinteto Violado, comemorando 40 anos de vida cultural. Tive a chance especial de rever esse grupo e perceber o respeito, o carinho e a ovação de um público que lotou o novo teatro brasiliense.

Pude viver quase duas horas de grande emoção pessoal pelo envolvimento de fãs e amigos com esse grupo musical, desde seu início. Mas, como pernambucano, e um observador da cultura e da sociedade, pude me emocionar com o que assisti.

A primeira emoção vem de perceber que os "meninos" do Quinteto, liderados pelo Marcelo Melo, são capazes de dar um exemplo do que desejamos, tanto na arte quanto em outros aspectos da sociedade. Eles são modernos sem abandonar a tradição: são velhos e novos ao mesmo tempo, e por isso ficam eternos. Tudo que se apega conservadoramente ao passado fica sem futuro; quem se moderniza, abandonando o passado, rapidamente envelhece.

O Quinteto é como uma árvore que cresce fortalecendo suas raízes. Usam instrumentos atualizados, ajustam os acordes das músicas, mas não abandonam nossos clássicos. Fica emocionante ouvir Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Adoniran Barbosa, com detalhes modernos, com nuances recriadas. O Quinteto não esquece as tradições e nem teme as mudanças.

A maior parte das atividades artísticas, em todos os ramos e muito na música, se divide entre dois grupos: os modernos envelhecidos e os conservadores superados. Basta ver quantas vezes ouvimos grupos musicais que nos sensibilizaram no passado e agora já não nos tocam mais como antes. Ficaram superados.

A segunda emoção é perceber como é possível ser universal sem perder o apego ao local. O "Quinteto" é um grupo da cultura brasileira nordestina, mas sua música pode ser reverenciada em qualquer parte do mundo. Já testei oferecer CDs do Quinteto a pessoas de diversos setores sociais, em países diferentes: o que se percebe é uma aceitação como se fosse música do próprio país e ao mesmo tempo com forte identidade brasileira, nordestina. Os "Meninos Iluminados do Quinteto" tocam música internacional, mas ela é nordestina; ou tocam música nordestina, mas ela é internacional.

Eles conseguem o casamento entre o passado e o presente, e entre o local e o universal. Sem medo do novo, sem esquecer o passado; sem tirar os pés do local, sem fechar os olhos ao mundo; são características raras na realidade atual. O turbilhão da modernidade, em todas as áreas, cria um fascínio com o novo, abandonando o passado; cria um fascínio pelo global ignorando o local. Os "Iluminados Meninos do Quinteto" combinam o que há de bom no presente e no globo, com o que há de rico, emocionante, no passado regional.

Eles são tão abertos e apegados, que têm seis músicos e continuam se chamando Quinteto. Modernizaram o tamanho e mantém o nome do passado. E nós que acompanhamos os primeiros 40 anos de sua história, continuamos chorando ao ouvi-los tocar, porque o chorar também une alegria ou sofrimento como manifestação e sentimento.

É esse sentimento que falta no mundo moderno, é isso que eles nos dão com tanta competência. Ainda mais, se assistirmos a seus shows com o coração de pernambucanos, como tive a felicidade de assistir em Brasília. Quando eles começaram, carregando eles próprios seus equipamentos, o povo dizia "lá vêm os violados". Depois de 40 anos podemos dizer: lá vêm os "Violados Iluminados".

Cristovam Buarque, professor da UnB, é senador pelo PDT-DF.

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