Incidentes menores têm representado a maioria das mortes e ferimentos causados por armas de fogo nos Estados Unidos. Nas últimas semanas, histórias têm mostrado como os atos isolados se acumulam formando um retrato mais amplo da violência armada no país.
Para se ter ideia, o Gun Violence Archive calcula 165 massacres a tiros neste ano até agora, mas milhares de incidentes menores. São histórias como a de Ralph Yari, um adolescente negro de 16 anos do Missouri, baleado por um homem branco após tocar a campainha da casa dele por engano, que demonstram esse cenário. Também tivemos o caso de uma menina de seis anos e do pai na Carolina do Norte, que foram baleados depois que a bola de basquete caiu no quintal do suposto atirador, segundo a polícia.
A violência é uma expressão trágica de uma necessidade não atendida, manifestada no comportamento.
Nestes casos, às vezes é importante buscarmos entender o que acontece por trás desses crimes. A violência é uma expressão trágica de uma necessidade não atendida, manifestada no comportamento. Todos nós somos violentos, em diferentes níveis, porque todos nós sentimos raiva e esse sentimento quando é reprimido e não elaborado vai explodir em surto. Já pensou, ou ouviu: “que vontade de dar um tiro no meio da cara dessa pessoa; fulano merece morrer; que vontade de matar…”? Então, aí está uma explicação do motivo de vermos tanta violência atualmente.
Esse comportamento violento está muito presente em virtude da desestrutura familiar, falta de equilíbrio mental das pessoas, a presença de transtornos nunca diagnosticados e tratados, além da desigualdade social, falta de oportunidades, o convívio com pessoas violentas e o discurso de ódio nas redes sociais são os principais fatores. O fato das pessoas terem alguns transtornos e não serem diagnosticadas também é outro problema. Os crimes de massacre são cometidos por pessoas psicóticas (ex: esquizofrenia) que acreditam em alguma coisa que faz sentido só para elas, e que justificam suas atrocidades.
Para entender a motivação de alguém para cometer os diferentes tipos de violência é preciso entender a motivação que está por trás, geralmente está ligada a autoimportância. É sobre a necessidade de se sentir importante e poderoso. Todos nós temos isso, mas as pessoas saudáveis vão buscar essa compensação em situações da vida. Já quem não é saudável, busca essa autoafirmação através da violência.
Existem alguns pontos que podem reverter um cenário desse, como investir em educação, saúde mental, emprego, segurança pública e desarmamento. É importante influenciar relações pessoais e trabalhar para criar ambientes familiares saudáveis, bem como oferecer auxílio profissional e apoio para famílias disfuncionais. Além disso, deve existir o monitoramento de locais públicos como escolas, ambientes de trabalho, vizinhanças e agir para tratar de problemas que possam levar à violência. É necessário atacar a desigualdade de gênero e atitudes e práticas culturais prejudiciais.
Outro ponto é agir sobre os fatores culturais, sociais e econômicos mais amplos que contribuem para a violência e agir para mudá-los. Incluindo medidas para reduzir o abismo entre os ricos e pobres e para garantir acesso igualitário a bens, serviços e oportunidades.
Muitas vezes a arma pode ser usada por pessoas que não tem a capacitação como crimes que são cometidos por crianças e adolescentes porque tem arma em casa. Ou por uma pessoa que não tem equilíbrio emocional para portar arma. Em muitos casos, esse armamento pode até aumentar a criminalidade e o número de homicídios. Fora o índice de suicídios também que são muitas vezes realizados com armas de fogo. Além daquelas que terminam na mão dos criminosos, aumentando o risco de uma pessoa ser ferida ou morta num assalto por exemplo. Existem, em atitudes intolerantes e na defesa das armas, elementos de individualismo. Muitas vezes tem pessoas que têm porte de armas e nem sequer fizeram avaliação psicológica e aí saem atirando por qualquer coisa. Ou seja, são pessoas totalmente intolerantes. Vivemos um momento de priorização de liberdades individuais em que o bem-estar coletivo parece estar ficando em segundo lugar.
Vanessa Gebrim é psicóloga e especialista em Psicologia Clínica pela PUC- SP.