Nos últimos tempos, os casos de violência política têm aumentado. Se trata de um fenômeno complexo e multifatorial. As causas são várias: a polarização e o extremismo; grupos extremistas opostos não se reconhecem como legítimos; o presidencialismo incentiva esse clima de torcida; os candidatos usam a estratégia divide et impera para dividir a sociedade; a ilusória luta “do bem contra o mal”; a criação de clivagens e conflitos para fins eleitorais. O Brasil e a América Latina, como um todo, estão entre as regiões mais violentas e perigosas do planeta, de forma geral. É um problema sistêmico e histórico, e é esperado que isso transborde em todas as áreas, inclusive na política. Mas além dessas questões (e outras) específicas e contingenciais, existem causas gerais e universais mais profundas. A política é violenta mesmo.
Historicamente falando, a política sempre foi associada à violência. O poder se toma, se mantêm e se exerce por meio da violência e da coerção. Faz só poucos séculos, apenas no Ocidente e só nas democracias liberais, que conseguimos amenizar a intensidade da violência e trocar os governantes de forma pacífica. Mais do que a norma, essa é a exceção.
“A guerra é a continuação da política com outros meios”, falou notoriamente Clausewitz. Miglio mostra que a “guerra é a forma máxima de conflituosidade política”. Mao Tse Tung adicionava que “a política é a guerra sem derramamento de sangue, a guerra é política com derramamento de sangue”. Ou seja, a relação é profunda, simbiótica e inextricável. Os conflitos políticos, quando não resolvidos, geram guerra civil, golpes, revoluções e guerra.
Mas o ponto fundamental é o seguinte: a política é um jogo de soma zero. Quem ganha, ganha à custa de quem perde. Não dá para os dois ganharem. Quem ganha, ganha tudo. Quem perde, perde tudo. Quem ganha, ganha exatamente o que o outro perde. Um ganha (sinal positivo) e o outro perde (sinal negativo), a soma é zero. Ou seja, se Bolsonaro ganhar, os lulistas, terão que viver no mundo de Bolsonaro e obedecer à legislação proposta pelo governo dele. Se Lula ganhar, os bolsonaristas terão que viver no mundo de Lula e obedecer à legislação proposta pelo governo dele.
A política é tribal, andamos com o bando. Imagine dois grupos de homens em um bar. Se um de um grupo começa a brigar com outro de outro grupo, os membros do grupo tomam imediatamente as defesas do próprio amigo, independentemente de quem está certo. Nada tão “racional”.
Ao contrário, a economia é um jogo de soma positiva, os dois ganham. Quem vende, ganha (sinal positivo) e quem compra, ganha (sinal positivo), soma positiva. A satisfação e a felicidade de ambas as partes aumentam. Por isso os dois decidem entrar em relação, porque é conveniente para os dois.No mercado, cada um escolhe o que comprar. Se todo o mundo tivesse que comprar a mesma coisa e se isso fosse definido por uma votação, daria briga. E a política funciona exatamente assim.
O cientista político Schmitt já mostrou que a política é definida pela “relação amigo-inimigo”. Na economia, no esporte, em família e na sociedade, somos parceiros, colegas, amigos, parentes, ou no máximo, adversários. Em política nos tornamos amigos ou inimigos. Política, religião e futebol, são aquelas coisas que conseguem estragar uma amizade e até a ceia do Natal! Claro que pode mudar a intensidade, mas a essência fica.
Adriano Gianturco é cientista político e coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec BH.
O minério brasileiro que atraiu investimentos dos chineses e de Elon Musk
Desmonte da Lava Jato no STF favorece anulação de denúncia contra Bolsonaro
Fugiu da aula? Ao contrário do que disse Moraes, Brasil não foi colônia até 1822
Moraes vota pela condenação de deputados do PL denunciados em caso de emendas