A quem interessa dificultar a entrada de turistas estrangeiros no Brasil? Por mais que eu procure respostas, acabo encontrando uma só: à Argentina. Sem qualquer conotação depreciativa aos hermanos, que lideram a movimentação do nosso receptivo, o vizinho tornou-se mais competitivo que nós. A Argentina é o “plano B” para viajantes endinheirados que, embora desejassem vir para o Brasil, desistem ante os entraves burocráticos. E assim, em vez do desembarque em São Paulo ou Rio de Janeiro, eles aterrissam em Buenos Aires.
Há alguns anos se discute, no setor turístico e no governo, a questão da exigência de vistos para estrangeiros. Historicamente, a política externa brasileira, sob o manto do Itamaraty, tem viés bastante conservador. Vira e mexe, evoca-se a soberania nacional e o polêmico princípio da reciprocidade: se os Estados Unidos exigem visto de brasileiros, entende-se que devemos fazer o mesmo com eles.
Seremos mais atrativos de alto a baixo da pirâmide social
Na prática, essa orientação doutrinária reduz nosso potencial receptivo. As razões de Tio Sam para exigir vistos, especialmente de 2001 para cá, passam pela segurança nacional e pela necessidade que o país tem de controlar o fluxo imigratório. Eles são poderosos e ricos. E não é esse o nosso caso. Tem mais: o Brasil aparece mal nos rankings de abertura internacional.
A realização dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio, serviu de laboratório para a flexibilização almejada pelo setor. A liberação temporária de vistos para turistas norte-americanos, canadenses, japoneses e australianos mostrou-se acertada. Tanto é que agora o Ministério do Turismo está empenhado em implantar, até o fim de 2017, o visto eletrônico para cidadãos dessas quatro nações. O governo prevê que a adoção desse tipo de visto vai viabilizar o documento em 48 horas. Outros países, como Índia, China, Arábia Saudita e Catar, também estão na mira da mesma orientação.
A argumentação básica diz respeito à competitividade. Calcula-se que a isenção de visto para canadenses, norte-americanos, japoneses e australianos resultará em aumento de até 25% do fluxo. Em decorrência disso, estima-se a entrada de R$ 1,4 bilhão na economia brasileira, em dois anos. Adicionalmente, o aumento da demanda vai necessariamente impulsionar a iniciativa privada e o próprio governo a investir mais e melhor na infraestrutura dos nossos destinos, na qualidade dos serviços e nas estratégias de segurança.
A disposição do governo encontra ressonância nas principais lideranças setoriais do turismo, cujos dirigentes têm trabalhado com afinco para simplificar e facilitar o processo de entrada de turistas estrangeiros no país. Todos os segmentos serão beneficiados. Seremos mais atrativos de alto a baixo da pirâmide social. No caso das pessoas de alto poder aquisitivo, que formam o nicho do luxury travel, o chamado “custo Brasil” não entra no rol de obstáculos, mas a burocracia e a morosidade dos processos sim, e elas são fatais. Ou mudamos, ou os gringos continuarão desembarcando em Buenos Aires.
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