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Viúvas e órfãos da violência do Boko Haram

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“Os homens do Boko Haram vieram para minha casa no início da manhã”, conta Esther em sua língua local, o hausa, “e começaram a saquear tudo: levaram meu marido e disseram para ele se converter ao Islã. Ele recusou e foi assassinado na minha frente”. O mesmo aconteceu com o marido de Rose, baleado na testa por se recusar a se converter ao islamismo. Agnes, 40 anos, e mãe de nove filhos, lamenta-se por não ter conseguido enterrar seu marido: “meu marido era um construtor. Ele trabalhava fora de uma casa quando o Boko Haram chegou e atirou em todas as pessoas na construção. Os terroristas não permitiram a ninguém entrar no lugar para recuperar os corpos. Nenhum enterro foi possível, nenhum funeral poderia ser celebrado. Eles simplesmente deixaram os corpos para apodrecer lá”. Quando ela termina de falar, Agnes seca suas lágrimas com o avental de seu colorido vestido típico.

Essas histórias são apenas alguns exemplos das milhares de experiências traumáticas que as mulheres nigerianas em Maiduguri sofreram nos últimos tempos. Kathrin, Helene, Justine, Juliette, Hanna e assim por diante até completar os mais de 5 mil nomes de viúvas.

Além da dor, essas mulheres agora estão sozinhas e precisam prover o próprio sustento e de seus filhos. Antes dos ataques, eles dependiam da renda de seus maridos. A maioria delas tem mais de seis filhos para alimentar e educar, e grande parte se recusa a casar novamente porque ainda se sente muito perto de seus maridos, mortos em terríveis circunstâncias. Soma-se a isso, ainda, o terrível fato de que essas mulheres nigerianas não puderam nem sequer enterrar seus maridos, porque os corpos nunca foram entregues para o sepultamento. É uma ferida aberta, difícil de cicatrizar.

Desde 2009, mais de 200 igrejas e fazendas, 25 escolas e três hospitais foram destruídos em Maiduguri

O bispo Oliver Doeme, da diocese de Maiduguri, criou a Associação de Viúvas Santa Judite, com o objetivo de melhor adaptar o auxílio enviado pela fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) às circunstâncias particulares de cada indivíduo em necessidade, além de destinar a outra parte dos recursos para a educação e alimentação dos órfãos, principalmente as crianças que vivem na parte oriental da diocese, região que é a mais afetada e a mais pobre também.

A diocese católica de Maiduguri está localizada na parte nordeste da Nigéria. Não é apenas o local de origem do Boko Haram, mas também a área mais atingida por seus ataques. Os estados de Borno, Yobe e Adamawa, no nordeste do país, estão no centro das atividades do Boko Haram. A diocese católica de Maiduguri cobre dois desses estados e metade do terceiro. Desde 2009, mais de 200 igrejas e fazendas, 25 escolas, três hospitais, três conventos, inúmeras lojas, casas pessoais de leigos e centros de negócios foram destruídos neste território.

Dom Oliver Doeme elenca os principais desafios para a diocese, que incluem a falta de comida, de educação – as escolas foram destruídas – e uma crise humanitária que vai muito além da dor física e “material”: “instaurou-se por toda a região uma crise espiritual, em que a maioria das pessoas da diocese está profundamente traumatizada”.

De acordo com os dados recolhidos pela ACN durante a recente viagem que fizemos à área afetada, o Boko Haram matou mais de 20 mil pessoas e 26 milhões de habitantes sofreram diretamente com o conflito, com mais de 2,3 milhões de crianças e jovens privados de acesso à educação.

Como parte do auxílio enviado a dom Oliver Doeme e aos demais países que sofrem perseguição religiosa, a ACN realiza neste domingo, 6 de agosto, uma campanha internacional de oração pelos cristãos perseguidos. Neste ano, a iniciativa abrange os cristãos que sofrem opressão em todo o mundo, o que amplia as intenções realizadas nas duas edições anteriores, que contemplavam as minorias perseguidas no Oriente Médio. A mudança ocorre exatamente porque em alguns países da África, como a Nigéria, morrem mais pessoas por serem cristãos do que em qualquer outro lugar do mundo.

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