Vivendo e aprendendo! A gente pensa que já viu muita coisa na vida, que já comeu vários quilos de sal e que conhece razoavelmente as pessoas, mas que nada! Tudo vaidade e aflição de espírito. A sorte é que vez por outra aparece alguém para nos esclarecer, iluminar os cantos obscuros de nossa ignorância. Agora foi a atriz Ítala Nandi que a numerologia transformou em Íttala Nandi que, flagrada em um exercício de ubiqüidade, trabalhando ao mesmo tempo em dois lugares distantes 800 quilômetros um do outro, deitou falação psico-sociológica a respeito desta terra e de seus habitantes. Com o auxílio metodológico da atriz, fomos alertados para algumas realidades desagradáveis, mas, por sorte, ela se prontificou a nos ajudar a nos livrar delas.
Você, paciente leitor, sabia que somos um povo reprimido, aterrorizado? Eu já suspeitava que essa mania de levar as coisas a sério, de não perder tempo com aquelas hipocrisias do "meu querido" e do "apareça lá em casa" não era uma coisa normal e agora descubro porque: é a repressão, a opressão que nos faz assim. Mas, afortunadamente, a atriz nos indica um caminho absolutamente inédito, o de misturar os locais com os de fora para "abrir a mente desses meninos que são extremamente apavorados", o que ela vem fazendo com brilho na Escola de Cinema. E nós que pensávamos que tínhamos mais de 1,8 milhão de forasteiros entre nós e 28 etnias diferentes ajudando a combater a repressão e a opressão! Vã suposição. Mas agora que dona Íttala nos alertou para a importância dessa mistura, certamente as coisas vão mudar. É claro que não o faremos trazendo alemães, poloneses, italianos e cracovianos, que seriam segundo ela os segmentos mais repressores do mundo.
Várias revelações e algumas surpresas: a surpresa fica para aqueles que ingenuamente achavam que Cracóvia era o nome da capital da Polônia entre os séculos XIV e XVII, mas descobrem agora que se trata, na verdade, de uma nacionalidade distinta. E os italianos, hein, que se julgavam um povo alegre, a pátria do "sole mio", da "gioia de vivere" e que nada mais são do que um grupo de fascistas? Eles, que vaidosamente se consideravam descendentes da Lupa Romana, da Roma Imperial, de Dante Alighieri, Vico, Leonardo da Vinci e Michelangelo, não passam de descendentes do Duce, que em vinte anos de ditadura na Itália apagou dois mil anos de civilização.
A área da psicologia social é outra em que dona Íttala também lançou suas luzes: a depressão é fascismo e o fascismo causa depressão. Vejam só como são as coisas: até hoje os pesquisadores não descobriram exatamente o que é e o que causa a depressão, se é um problema neuroquímico ou um transtorno afetivo, mas agora já sabemos: é Benito Mussolini, de novo, o responsável pela doença psicogênica mais importante de nossa época, verdade que dona Íttala aprendeu na colônia italiana em que foi criada, no Rio Grande do Sul.
O grupo de reprimidos e oprimidos que aqui viveu e vive conseguiu com muito esforço transformar o sertão fechado na sexta economia do Brasil, mourejando de sol a sol. Um grupo que não deve ser assim tão hostil aos que vêm de fora, haja visto que mineiros, paulistas, catarinenses, nordestinos, nortistas e gaúchos acorreram para estas plagas em grande número, aqui se radicaram, formaram família e prosperaram. Os estrangeiros também não se intimidaram com a repressão e a opressão paranaenses. Não foram só os reprimidos de além-mar, da Itália, da Alemanha, da Polônia e da Cracóvia que gostaram deste torrão. Espanhóis, portugueses, árabes, holandeses, coreanos, japoneses, latino-americanos também não se intimidaram com essas paragens frias e úmidas (copyright Fabio Campana) do sul e salpicaram os registros civis com sobrenomes curiosos e alguns ininteligíveis.
Até agora nos sentíamos razoavelmente felizes. Ledo engano: nós éramos infelizes e não sabíamos. Mas nunca é tarde para a descoberta da verdade. No dia 29 de agosto, celebramos 154 anos da promulgação da Lei 704, que nos emancipou da Província de São Paulo. Para os que gostam de numerologia, o número da lei soma onze (7+0+4) e a data da promulgação (2+9) também. De acordo com um site que consultei na internet, nosso destino está relacionado com os mistérios da fecundidade, o transbordamento desmedido, um novo impulso para outro ciclo, uma nova polarização, a totalidade, o caminho do Céu e da Terra, a espiritualidade e o conhecimento secreto que deve ser revelado. Ufa! É uma caminhada e tanto. A sorte é que dona Íttala está entre nós para nos guiar, tal como Virgílio e Beatriz conduziram Dante do inferno até o céu.
Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.
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