Nos últimos anos, os debates econômicos e políticos têm se acalorado, trazendo uma tensão constante em nossa sociedade. A polarização existente não nos permite, enquanto sociedade, chegar a um consenso para a seguinte questão: quais rumos devemos tomar para haver um futuro próspero para todos? Diante desse cenário, uma contestação que deveria ter ficado no passado ainda se mantém viva em várias rodas de conversa, principalmente entre os mais jovens.
Como se ainda vivêssemos nos tempos da Guerra Fria, o embate entre capitalismo e socialismo ainda teima em permear algumas mentes (sobretudo dos mais jovens) quando se discute as soluções para os problemas financeiros do mundo, como a desigualdade. Diante de tantos fatos históricos amplamente disponíveis e verificáveis, faz-se desnecessário realizar conjecturas teóricas do que poderia ou não funcionar, em termos práticos. Não faltam exemplos no mundo – sobretudo do que não deve ser repetido.
Um conceito de sociedade frequentemente apoiado pelos jovens é o socialismo. Modelo socioeconômico responsável pela morte de mais de 110 milhões de pessoas entre 1917 e 1987, esse sistema ainda parece mais “justo” e “igualitário” aos ouvidos dos incautos, que ignoram a comprovação empírica histórica. Por que as novas gerações tendem a se deslumbrar com algo evidentemente falho para o coletivo global? O ideal superficial do socialismo soa muito atrativo: a distribuição de renda seria a responsável por todos viverem sem privações. Atualmente, podemos dizer que os socialistas têm ganhado pontos significativos na batalha argumentativa, a despeito de o modelo econômico nunca ter funcionado na prática.
Os apoiadores do capitalismo automaticamente são jogados na vala de opressores dos pobres. Afinal, a riqueza dos mais abastados foi gerada justamente em detrimento dos menos favorecidos, correto? Não, esta afirmativa não poderia estar mais longe da realidade. Economia não é um conceito de soma zero. Peguemos o exemplo de Round 6, série apontada como uma crítica ao capitalismo (já que os personagens que têm dívidas impagáveis são desprezados pelos ricos, a ponto de terem de sofrer com jogos sádicos e pagar com a própria vida). A obra da Netflix já faturou US$ 800 milhões e ninguém precisou ficar mais pobre para que isso acontecesse. Ao fornecer entretenimento para milhões de espectadores, os atores, produtores, técnicos, a Netflix e toda a equipe responsável pela obra ganharam dinheiro. Eu e você ligamos a nossa tevê e este dinheiro foi “magicamente criado”, sem ninguém precisar ficar pobre para tal.
Mas voltemos à utopia do socialismo. Ao crescerem, os jovens entusiastas deste regime constatam a sua inviabilidade pela falta de individualismo, combustível primordial da geração de riqueza. O desejo pelo lucro é o único motivo que faz os empreendedores correrem riscos, gerando emprego, impostos e, em última instância, até o PIB de um país. Tão irracional quanto o próprio regime socialista seria o caminho para a implantação desta utopia, que não se daria a não ser por meio de forte intervenção estatal. Neste cenário, até mesmo os que clamam por mais “democracia” sofreriam com decisões políticas monocráticas, concentradas nas mãos de poucos políticos ditatoriais.
No socialismo, as pessoas não têm controle sobre suas próprias vidas. Não há livre arbítrio sobre o que, de onde, nem sequer em que quantidade produzir. Sem possibilidade de lucro, os agentes econômicos não têm incentivo para abastecer as gôndolas. E o resultado é o que dizem por aí: “no capitalismo, os produtos fazem fila para nós. No socialismo, nós fazemos fila para tentar obter os alimentos”.
Paradoxalmente, a retórica socialista talvez não passe de uma estratégia tirânica de tomada do poder. Disfarçado de boas intenções, o socialismo destrói riquezas e, de fato, consegue reduzir a desigualdade de renda: deixando todos igualmente pobres.
Defensores da distribuição de renda alegariam que é injusto alguém ganhar tantos milhões como o jogador de futebol Neymar ou o fundador do Facebook (agora Meta), Mark Zuckerberg. Vamos a uma verdade inconveniente, que destrói o mundo de unicórnios dos socialistas: em um sistema econômico de benefícios iguais, quem iria se esforçar? Pra que correr riscos, investir dinheiro na tentativa de gerar valor para outras milhões de pessoas?
Outra situação (polêmica) para servir de exemplo: um funcionário e o dono de uma empresa deveriam receber o mesmo, como alguns pregam por aí? O lucro, evidentemente, tem de retornar para quem assumiu o risco quando não havia garantias inicialmente. Se a empresa vai à falência, o funcionário pode até perder seu salário, mas será o investidor quem vai arcar com os passivos deixados para trás, não raramente podendo destruir o dinheiro acumulado durante toda uma vida (e ainda não ser suficiente).
No mundo real, é inevitável que haja diferenciações entre pessoas. Alguns são mais produtivos, outros mais inteligentes, há até quem não deseje trabalhar de jeito nenhum. É de nossa natureza humana não sermos iguais, e assim surgem os contrastes. Levando isso em conta, ao debatermos algo tão sério como esse assunto, a pauta não pode ser apenas a desigualdade em si, mas a pobreza. E, para combatermos esse mal, há apenas uma solução, que não é o regime socialista, mas a educação. Foi por meio dela que os rumos da minha família mudaram. Enquanto ainda viviam na zona rural, com muito custo, meus avós conseguiram bancar os estudos do meu pai. Tempos depois, ele criou uma indústria, tendo empregado mais de mil pessoas por lá. As empresas que criei não seriam possíveis se não fosse pela quebra do ciclo da pobreza, que se iniciou com o acesso à educação de que meu pai se beneficiou.
Este é um problema gravíssimo no Brasil: a dificuldade de acesso à educação de qualidade. Como é algo que requer décadas para gerar resultado, nunca foi prioridade do Estado e dos políticos que estão no poder. O Brasil não tem um projeto de país, existe sempre um projeto de manutenção de poder.
A vida muda quando paramos de depender de migalhas de governantes (que vivem em palácios) para sobreviver.
Por meio dos impostos, pagamos caríssimo por saúde, segurança e também educação. Mas o que o Estado brasileiro nos fornece nestas searas? Seria este mesmo Estado capaz de prover produtos e serviços baratos, de qualidade e quantidade suficientes em um regime socialista? Não foi por meio da força dos governos que o mundo moderno evoluiu. Ao contrário disso, foi justamente o capitalismo “malvadão”, a iniciativa privada e o livre comércio que trouxeram o progresso em escala global.
Os níveis de desenvolvimento da sociedade desde a Revolução Industrial são inquestionáveis. Veja a diferença nos meios de transporte nos dois últimos séculos, nas tecnologias, na infraestrutura, na disseminação de conhecimento. Fora dados como taxas de mortalidade infantil menores, maior expectativa de vida e muito mais. Veja o ranking de liberdade econômica da Heritage Foundation. Os países com maior liberdade de comércio (que têm menos corrupção, menos burocracia, os países que interferem menos no mercado) são justamente aqueles em que as pessoas passam menos fome. O capitalismo e o livre mercado alimentam e salvam vidas diariamente. Mercados lucrativos atraem cada vez mais fornecedores, e tal concorrência propicia preços menores aos consumidores, beneficiando, sobretudo, quem tem menos recursos.
Essas são informações e pensamentos que você não vai aprender na escola. A vida muda quando paramos de depender de migalhas de governantes (que vivem em palácios) para sobreviver.
Gastamos mais da metade de nosso tempo útil em função de ganhar dinheiro. Antagonicamente, somos ensinados que dinheiro é sujo, que é “a raiz de todos os males”, que o capitalismo é ruim. Muitas “falhas” do capitalismo na realidade são geradas pelos próprios governos, que acabam encarecendo os produtos para os mais pobres, com subsídios, legislações que impõem altas barreiras para entrada de novos participantes e permitem a manutenção de oligopólios, e o chamado “capitalismo de compadrio” ou clientelista, em que os negócios são privilegiados pela ligação de poucos players com entes políticos. A diminuição da competição – justamente o que é escancarado no socialismo – é o maior fator de empobrecimento das pessoas.
A gaiola está aberta, mas a liberdade só é para aqueles que se arriscam a voar.
William Ribeiro é graduado em Engenharia da Computação com MBA em Gestão Empresarial, autor de “Você não nasceu para ser pobre” e responsável pelo canal do YouTube Dinheiro com você.
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