Há alguns meses passei pelo aeroporto municipal de Pittsfield, em Massachusetts, bem cedinho. Estava tudo quieto, mas não consegui deixar de reduzir a velocidade e sorrir ao espiar o lugar de onde levantei voo a primeira vez como piloto, há quase trinta anos.
Eu me lembro da minha versão de 16 anos de idade prendendo o cinto ao pequeno avião, que parecia tão metálico, quase improvisado – qualidades que sugerem leveza, mas também me recordavam do Lada, aquele carro péssimo da era soviética, que meu tio sueco tinha. Também fiquei surpreso com o calor da cabine, que mais parecia uma estufa, e com o ruído dissonante do motor na partida, que me trazia à mente um cortador de grama pouco confiável que eu usara durante vários verões. Não demorou para começarmos a acelerar pela pista. Alcançando a velocidade correta, movi com cuidado a coluna de controle para trás, como meu instrutor tinha me ensinado – e o salto resultante transformou minha terra natal, a cidadezinha que eu pensava conhecer, em uma superfície quase ininterrupta de copas de árvores. Foi sensacional.
Hoje, minhas decolagens são bem longe de Pittsfield, em todos os sentidos: Londres, Tóquio, Hyderabad, Chennai, Jedá e outras – mas, quando saio de um terminal moderno e reluzente para o ar de uma dessas cidades imensas, quase sempre penso em todas as vezes que meu pai ou minha mãe me levaram à cerca de arame em torno do aeroporto de Pittsfield, muito antes da minha primeira lição de voo. No inverno, ficávamos dentro do carro, mas no verão subíamos em uma das mesas de piquenique, comendo donuts e vendo os aviões decolar e pousar. E o negócio é que, nessa época, eu jamais pensava em aterrissar. Decolar era tudo que eu queria.
Não é surpresa que o desejo de levantar voo venha primeiro, seja para um garoto ou para uma civilização inteira. Muitas das descrições mais belas de decolagens vêm dos primórdios da aviação, ou falam de quando voar era só um sonho. A poetisa Anne Sexton nos pede: "Pensar em Ícaro, lutando com aquelas asas grudentas, / testando aquele pequeno repuxo estranho na clavícula, / e imaginar aquele primeiro momento impecável…" Nosso conhecimento dos momentos posteriores, Sexton sugere, não nos deveria fazer esquecer um início auspicioso.
Por mais estranho que possa parecer, a aterrissagem pesa mais para mim até na hora da despedida de uma cidade
E há também Isak Dinesen, uma das minhas autoras favoritas quando se trata de voo. Nascida em 1885, sua geração foi uma das últimas a crescer em um mundo sem aviões. Dinesen descreveu suas experiências iniciais no livro A Fazenda Africana, que mais tarde se transformou no filme Entre Dois Amores. Sobre as decolagens, ela escreve: "Toda vez que subo em um avião e olho para baixo para perceber que sou livre em terra firme, tenho a consciência de uma grande descoberta." Foi aí que me toquei de que a ideia era essa. E que ninguém a descreveu melhor.
Cada viajante tem uma perspectiva da partida e da chegada. Qual dos dois a maioria prefere? Para descobrir, fiz uma pesquisa nada científica no Twitter, respondida por mais de 900 pessoas; dessas, a maioria, ou 59%, disse preferir a decolagem. Muitas fizeram comentários que certamente teriam deixado Dinesen feliz. "É a antecipação… e a primeira olhada do mundo lá de cima", escreveu um. "Uma promessa", "o início de algo", "a alegria de deixar tudo para trás", comentaram outros. (E o que eu gostaria de saber é o que a aristocrática Dinesen teria achado desse comentário: "Meu prazer culpado é ouvir Danger Zone quando o piloto acelera.")
Em comparação, 41% preferiram a aterrissagem. Vários comentaram a impressão (correta) de que os pilotos descem os últimos milhares de metros mais lentamente do que quando subimos até a altitude ideal, após levantar voo; outro prefere o processo de chegada por causa do ritmo "gradual" da descida, com o local de destino "lentamente se tornando visível, e os objetos, cada vez maiores". O ritmo controlado, como escreveu um terceiro, "me permite uma boa olhada pela região, especialmente se é um lugar que conheço bem. Adoro ver tudo de cima".
Se os que gostam da aterrissagem são minoria, muito provavelmente esta inclui grande parte dos pilotos. Recentemente, consultei mais de uma dúzia desses profissionais e todos foram categóricos em suas preferências, inclusive Mark Feuerstein, piloto de testes aposentado responsável pelo voo inaugural das duas versões mais recentes do 747. "Ah, a aterrissagem ganha disparado; é um desafio muito maior. Tem muita coisa rolando em um espaço de tempo bem curto", diz ele. (Sua mulher, que também pilota aviões comerciais, concorda que aterrissar ganha "nota máxima".)
Por que a manobra de descida exige mais do condutor? Uma explicação simplificada é que o céu é grande e a pista, nem tanto. Pense em uma vaga estreita de estacionamento e em quanto é muito mais fácil sair dela do que entrar, principalmente em uma manobra só. Ou pense na aterrissagem como uma aplicação progressiva de restrições – ainda que essa também não seja uma descrição completa –, conforme saímos da tridimensionalidade do movimento no céu para o confinamento de mais ou menos uma dimensão que é permitida na descida rumo à linha central da pista antes de tocá-la.
Feuerstein acrescenta: "Em geral, os pilotos tendem a se lembrar das aterrissagens por mais tempo que das decolagens." Os desafios e a satisfação pessoal de completar um voo em segurança contam como motivos principais, mas há outros fatores também: muitos pilotos, como qualquer viajante, gostam da novidade de explorar, e a decolagem, obviamente, é de uma cidade na qual já estiveram. E, embora ofereça uma sensação particularmente pura de começo, a aterrissagem também pode ser um início, cheio de expectativa pelo mundo novo no qual em breve estaremos nos movimentando.
Não faz muito tempo voei para Islamabad, a capital surpreendentemente verdejante do Paquistão. Foi minha primeira vez naquele país, depois de muitos anos de constantes sobrevoos. A experiência de observar uma paisagem impressionista, que até então eu só tinha visto a milhares de metros lá embaixo, aos poucos dando lugar aos detalhes de torres, lagos, ônibus em avenidas largas e muitas, muitas árvores, transformando-se "no mundo que permanece imóvel enquanto / os pneus girando continuam a sacudir o coração" – como o Nobel de Literatura Derek Walcott descreve –, continua sendo uma das grandes maravilhas da minha função.
Por mais estranho que possa parecer, a aterrissagem pesa mais para mim até na hora da despedida de uma cidade. No ano passado, em minha última viagem como piloto do 747, o capitão me ofereceu a escolha de fazer o trecho Londres-Cidade do Cabo, incluindo a aterrissagem, ou o da volta para casa, alguns dias depois, que começaria com a decolagem na metrópole sul-africana. Entretanto, embora a saída a partir de lá fizesse mais sentido como despedida de um lugar de que gosto muito, não pensei duas vezes em optar por aterrissar. Sob vários aspectos, uma chegada era a despedida perfeita.
A velha piada entre os pilotos sobre decolagens e aterrissagens – que diz que o ideal é ter o mesmo número de ambas – revela por que o pouso se tornou mais significativo para mim. Um dos prazeres menos valorizados da função de piloto é sua "limpeza" (por falta de palavra melhor). Ao contrário do mundo corporativo no qual trabalhei anteriormente, não há reuniões longas, propostas sugeridas ou lançamentos que duram meses; cada voo é uma tarefa distinta, que sempre estará limitada às regulamentações de tempo de voo, à capacidade dos tanques de combustível e, no fim das contas, do tamanho da Terra.
Uma consequência dessa limitação tão metódica e organizada é que cada voo repete tudo o que tem início, meio e fim óbvios. E, para mim, em plena meia-idade, esse detalhe é cada vez mais adorável. Tanto que tinha vontade de contar tudo para minha família e meus amigos: como as árvores, e todo o resto, de repente se viam abaixo de mim, e como essa visão me lembra dos anos em que ela era tudo que eu queria.
Entretanto, a diferença entre o garoto de 16 anos que levantou voo em Pittsfield e o sujeito de 45 anos que aterrissou em Islamabad é que, em algum lugar no meio do caminho, adquiri uma paixão inesperada pela integralidade. E são as aterrissagens, mesmo nas cidades mais longínquas, que sempre concluem uma história simples: percorri longas distâncias nas alturas, foi maravilhoso, mas chegou a hora de voltar para casa.
Mark Vanhoenacker é piloto da British Airways, colunista para "The Financial Times" e autor dos livros "How to Land a Plane" e "Skyfaring".
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