Quando éramos crianças, nos escondíamos. Se o perigo vinha, tínhamos um colo. Nossos antepassados se escondiam dos predadores na caverna. Esse recurso instintivo está dentro de cada um de nós, fomos programados para dar meia-volta no caso de algo dar errado. Mas o tempo passou e a humanidade evoluiu. O tempo passou e você cresceu. E, provavelmente, um dos maiores sinais de maturidade é justamente não querer mais enfiar a cabeça embaixo do travesseiro, é dar as costas para a caverna e só usá-la para abrigar quem não é autossuficiente como você.
Só que precisamos cuidar sobre a verdade de o quanto estamos, de fato, encarando os desafios e o futuro. Nossa mente é habilidosa em criar falácias, e faz com que nos sintamos corajosos para que não tenhamos de conviver com o peso da consciência ou da baixa autoestima. Às vezes, apenas achamos que saímos da caverna. Quer ver? Quando você precisa resolver um problema drástico e, em vez de fazer uma ligação para uma conversa difícil, resolve apenas enviar um e-mail, você está na caverna. Quando você tem de tomar uma atitude desconfortável, mas urgente, só que decide “dar um tempo para refletir”, você está na caverna. Quando está diante de um exame médico que precisa fazer, mas o evita por acreditar que “quem procura acha”, “melhor não mexer com o que está quieto”, “é só uma dorzinha de nada”, você está na caverna.
Poucos reflexos condicionados são mais traiçoeiros que o de se esconder. Há uma falsa percepção de segurança e conforto. Temos a impressão de que logo vai passar. E, pior, que, se deixarmos de pensar no problema, ele desaparecerá por conta própria. A analogia da caverna ajuda a entender melhor as metáforas visuais que regem a coragem. O medo não nos deixa perceber o contraditório da situação: a luz é o antídoto para espantar os monstros. É fora da caverna que fazemos grandes coisas. Os vampiros não suportam a luz, todos os filmes de terror usam a escuridão. E a escuridão está na caverna. Ao enxergar o problema, você verá que não é tão grande assim. E também verá as soluções. Paradoxalmente, a coragem não é o oposto do medo, mas sua irmã. Todos temos medo, mas ele não reconforta, apenas nos exila, nos isola, nos impede de prosseguir. Se chamamos a coragem, o medo é abafado. Mesmo que não seja de imediato. E como é que se consegue coragem? Saindo da caverna.
Muitos grandes conquistadores, como Cristóvão Colombo, Marco Polo e, mais recentemente, Richard Branson, são constantemente rotulados com o mesmo adjetivo: visionários. Ao pé da letra, pessoas que conseguem enxergar, que veem além. Todos deixaram a caverna para trás. E nenhum deles sentiu saudades.
É como no filme Os Croods. Quem assistiu já sabe; quem não assistiu vai se divertir. E, provavelmente, vai refletir muito sobre sua própria caverna e quais as motivações que nos fazem sair para o mundo.
José Elias Castro Gomes é secretário da Transparência e Governança de Foz do Iguaçu.
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