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Enquanto os escândalos do grampo, desencadeados pela espionagem do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e de altas figuras da República, esperam para ser totalmente suplantados por novos temas, a conflituosa questão da Reserva Raposa Serra do Sol deixou de freqüentar os noticiários. Espera-se pela decisão do STF para saber se apenas alguns poucos índios poderão ficar sobre uma imensa área de Roraima enquanto rizicultores serão expulsos.

Também no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina o governo quer agraciar índios aculturados que hoje preferem um Pajero a um pajé com vastidões territoriais. Isso sem falar nos quilombolas, descendentes de escravos que também esperam sua vingança contra o branco mau.

Parece que um frenesi de redenção populista acometeu o governo Lula. Todas as "dívidas" históricas devem ser pagas, inclusive aos vizinhos latino-americanos. Para a Bolívia, onde coabitam um povo sofrido e um governo companheiro com o charme politicamente correto da descendência indígena, o governo Lula doou instalações da Petrobras com prejuízo de US$ 1,5 bilhão para os cofres brasileiros. Muito também já foi doado a países africanos e agora preparamos doações de Itaipu para o presidente, ex-bispo e companheiro Fernando Lugo.

Recordemos que nas colônias da América Espanhola, por volta de 1771, o mestiço denominado crioulo – meio espanhol, meio índio – ao mesmo tempo dominado e discriminado pelo europeu que lhe negava acesso às esferas mais altas do poder, e dominador e discriminador em relação ao "mau selvagem", descarregou sobre este seu complexo de inferioridade.

A partir de 1810, porém, quando se iniciou o processo de independência das colônias hispânicas, uma ideologia inversa à que existia fez com que os crioulos de declarassem "índios de honra". Emergiu o "bom selvagem", que passou a ser cantado em verso e prosa.

No Brasil não havia as civilizações como as dos astecas, maias e incas. Nossos índios estavam no nível pré-histórico. Hoje deve restar poucas tribos em estado primitivo, mas, mesmo assim, parece haver empenho da parte do governo Lula em exaltar o mito do "bom selvagem". De novo a velha tática de dividir para governar, que joga negros contra brancos, pobres contra ricos e agora índios contra "não-índios".

Muito a propósito, um amigo virtual, Gilberto, de Curitiba, me perguntou: "Você já foi a Roraima?" Disse-lhe que não e ele respondeu: "Eu já fui, na década de 70, quando esses arrozeiros estavam desbravando aquela região sem estradas, sem médicos, sem comunicações. Sobrevoei a região até a fronteira da Venezuela. Dava medo. Estávamos em um monomotor e eu sabia que se tivéssemos uma pane desceríamos em um chão ermo onde ninguém nos acharia antes de sermos comidos pelas feras ou pelos mosquitos".

Meu amigo virtual lembra que foi ali que os arrozeiros se estabeleceram. Pacificamente, sem matar um só índio, até porque sobra terra para pouco índio (menos de um por quilômetro quadrado).

"Esses pioneiros, se fossem do MST, teriam toda proteção do governo petista porque seriam um grupo sem-terra ocupando uma área abandonada, de acordo com o direito de posse garantido pela Constituição. Mas eles não são do MST. Não vivem sustentados pelas bolsas-esmolas nem comem o que lhes é enviado pelo governo em cestas básicas. Os arrozeiros prosperam com seu trabalho e sua coragem, o que é um crime aos olhos da esquerda. Então, devem ser expulsos para em seu lugar virem os índios que nada farão com aquela terra, exceto vender seus recursos para quadrilhas de brancos e comprar caminhonetes importadas, como tem acontecido em todas as reservas indígenas", escreve o Gilberto.

E o relato segue: "Outro dia assisti a um documentário sobre esse caso e achei muito emblemática uma passagem: depois de um monte de asneiras de antropólogos sobre a preservação da ‘cultura indígena’, o documentário passou a mostrar um bando de índios entrando num barco a motor e se embrenhado pela floresta para caçar macacos. Sim, matar macacos para comer faz parte da ‘cultura indígena’. Mas como aqueles índios caçaram? Com espingardas modernas, que não davam a mínima chance aos nossos pobres primos arborícolas. Ao final, voltaram no mesmo barco a motor e, chegando à maloca, o chefe do bando disse: ‘Agora, de acordo com nossa cultura, vamos fazer sopa de macaco’".

E meu amigo questiona: "Agora imagine se os luminares do PT resolverem restaurar as culturas indígenas destruídas pelo branco no Brasil? Uma das primeiras coisas que retornará será o canibalismo praticado pelos tupinambás. E se os mexicanos, seguindo o exemplo, resolverem restaurar a antiga cultura asteca? Haja coração, no sentido mais lato da expressão".

Será, pergunto eu, que os petistas sonham em restaurar o comunismo tribal em pleno século 21? Duvido, pois eles adoram as delícias do capitalismo. E os índios também.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga, professora e escritora.mlucia@sercomtel.com.br

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