Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Artigo

Você sabe quantas pessoas têm foro privilegiado no Brasil? 55 mil!

Cartaz em defesa do fim do foro privilegiado
Cartaz em defesa do fim do foro privilegiado: extinção do benefício é alvo de pedidos nas redes sociais após a deputada Flordelis ter sido acusada de ser a mandante do assassinato de seu marido. (Foto: Agência Câmara)

Ouça este conteúdo

Muito se fala de foro privilegiado no Brasil. O significado básico todos sabemos. Trata-se de um mecanismo pelo qual se altera a competência penal sobre ações contra autoridades públicas. Ou seja, se você tem foro privilegiado, não é julgado por juiz de primeira instância como nós, reles mortais.

Em sua essência, o princípio do foro faz sentido: proteger um cargo ou função pública, não propriamente a pessoa que o ocupa. Assim, assegura-se a estabilidade política. Em tese, é uma boa medida, mas indo mais a fundo na questão o privilégio perde o sentido.

No dia a dia, percebemos que esse mecanismo vem sendo distorcido ao longo dos anos. Com isso, aquela máxima de que todos são iguais perante a lei perde totalmente o sentido. Assim, o foro embute uma série de impunidades, já que diversas pessoas que se envolvem em escândalos de corrupção e outros crimes graves o utilizam como um escudo, mantendo uma barreira contra eventuais punições.

No Brasil, cerca de 55 mil pessoas têm foro privilegiado. Em outros países, os beneficiados são contados em dezenas; aqui, em dezenas de milhares. Assim, fica claro que o foro assumiu o jeitinho brasileiro e é concedido para muitos que não teriam direito a essa prerrogativa jurídica. Os beneficiados são promotores, juízes, prefeitos, desembargadores, procuradores de Justiça, governadores, deputados, senadores, ministros e o presidente da República.

Em outros países, os beneficiados são contados em dezenas; aqui, em dezenas de milhares.

A luz no fim do túnel é a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 10/2013, que propõe a redução drástica do foro privilegiado. A PEC já foi aprovada pelo Senado e encaminhada à Câmara dos Deputados. Mas isso ocorreu em 2017. Ou seja: está parada há quatro anos. Obviamente, porque a mudança de regras não interessa aos deputados.

Além de superinchado, o foro privilegiado é um dos fatores que contribuem – e muito – para a lentidão na Justiça brasileira. Basta entrar com um pedido legal e se vai para a fila que anda mais rápido. Enquanto isso, os cidadãos comuns esperam anos por decisões dos tribunais. Está aí mais um item da imensa lista de mudanças positivas para o país.

Antonio Tuccilio é presidente da Confederação Nacional dos Servidores Públicos (CNSP).

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.