No mês passado, um voo da Germanwings que ia de Barcelona a Düsseldorf caiu nos Alpes franceses matando 150 pessoas. As notícias de que o copiloto Andreas Lubitz teria causado a queda do avião provocaram diversas ordens de indignações, suspeitas e perplexidades. Dentre elas, a forma como os relatos em referência ao copiloto mencionam suicídio. Importa pensar em que medida a sociedade atual está preparada e atenta aos diversos quadros de transtornos mentais que acometem mais e mais pessoas. Dentre os impactos ambientais mais frequentes e preocupantes dos dias de hoje está a influência do crescimento das cidades sobre a saúde mental humana.

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Ansiedade, depressão, estresse pós-traumático e síndrome do pânico são só alguns exemplos de consequências indesejadas de uma vida contaminada pela velocidade de informações, pela violência generalizada, pela pressão por resultados e tudo o que representa um movimento muitas vezes mais rápido do que a mente humana é programada para suportar. Não se deve esquecer um dado importante: a sociedade atual premia os resultados rápidos, cobra o cumprimento de tarefas múltiplas e urgentes, insiste em maravilhar-se com as infinitas possibilidades das máquinas, esquecendo-se, com frequência, de que os seres humanos que as operam não são ilimitados.

O preço da saúde mental vai além da questão do mero acolhimento moral

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Nos mais diferentes segmentos, observa-se o aumento gradual e sensível de pedidos de licença para tratamento de saúde mental, e em muitas ocasiões o empregador não toma atenção para os problemas mentais que afligem os empregados. Em grande parte das ocasiões, tais enfermidades e transtornos não são mencionados, pois carregam consigo o preconceito derivado do desconhecimento.

Veicula-se que Andreas Lubitz, o copiloto de 27 anos, estava doente, já teria recebido tratamento para depressão e não deveria ter entrado na cabine da aeronave devido a um atestado médico que ele manteve em segredo. Assim como Lubitz, há registros de que ao menos um em cada seis indivíduos apresentará algum distúrbio mental durante sua vida. De maneira que, para além do não fácil reconhecimento de que os problemas mentais podem atingir a todos e que muitos deles podem derivar do ambiente socioeconômico criado e, no mais das vezes, estimulado, desenvolvido e incentivado pela esmagadora maioria das pessoas, é preciso refletir sobre a consequente questão da responsabilidade social. Essa vem originada da vulnerabilidade que se demonstra por um meio ambiente que, muitas vezes, não acolhe: atemoriza; não tranquiliza: estressa; não aguarda: antecipa; enfim, não guarda congruência com o tempo, a natureza e as peculiaridades dos seres humanos que nele vivem.

Outro ponto merece ser pensado: o preço da saúde mental, que vai além da questão do mero acolhimento moral a ser exercido pela sociedade, mas se encontra também e principalmente na busca de soluções econômicas viáveis e adequadas aos tratamentos e aos pacientes. Alguns deles nem são tratados; outros são, mas inadequadamente. E todos padecem, vulneráveis e à mercê da instabilidade mental que se esconde, enquanto é possível. E a sociedade, aparentemente saudável, também se fragiliza, posto que não consegue dar resposta satisfatória a algo que ela mesma propiciou, ora incentivando medidas, ora omitindo soluções.

Jussara Maria Leal de Meirelles é professora do Programa de Pós-Graduação em Direito Econômico e Socioambiental e do Programa de Pós-Graduação em Bioética da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.