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Editorial

WhatsApp à ficha telefônica

O WhatsApp é revolucionário e inovador. A tecnologia foi Idealizada e desenvolvida conectada com as disponibilidades atuais de comunicação e ferramentas de desenvolvimento de software. Mas o modelo mental dos nossos dirigentes da comunicação e do direito insiste em permanecer no milênio passado.

O WhatsApp é impressionante. Não sabemos mais viver sem ele. São 100 milhões de brasileiros conectados. Ele facilitou as conversas e rapidamente entrou no hábito dos usuários de celular. Se tivesse mais de dois anos poderíamos até dizer que faz parte da nossa cultura. Entendemos a importância dessa ferramenta quando aparece alguém com uma âncora e a joga no colo da população.

Ainda que o WhatsApp fosse o único meio de comunicação do mundo, o seu bloqueio nada fere a causa das drogas

As leis que tudo regem quando foram concebidas não tinham como imaginar o impacto das tecnologias na vida das pessoas. Temos exemplos vários de influência das tecnologias e da comunicação batendo de frente com as legalidades, conceitos de negócio e os usos e costumes. Exemplos são bons para comparar com a atual situação do WhatsApp. Temos um que foi impactante e agora poucos se lembram. Outro que está acontecendo e em plena revolução. O exemplo atual se visto pelo exemplo de ontem, vai tornar engraçada a batalha de quem tenta conter a inovação.

O comércio de música é um exemplo clássico. As gravadoras tentaram durantes uns dois anos barrar o compartilhamento de música pela internet. Derrubavam judicialmente um site que compartilhava arquivos MP3 e no outro dia apareciam vários outros com a mesma função. Quem entendeu o novo cenário criou novos negócios e hoje vende muito mais música e certamente com muito mais lucro.

O Uber (serviço de locação de transporte urbano) repete a história do comércio de música. As barreiras estão sendo criadas. Os atuais mandatários do segmento se mobilizam para manter o velho modelo. Mas não adianta. Quem pretende atuar no segmento de táxi precisa levar em consideração a existência da internet, a facilidade da comunicação e, principalmente, a vontade da população. As pessoas não aceitam retroceder em economia e conforto.

O Brasil costuma atuar no efeito e fazer vista grossa para as causas, contrariando a sabedoria popular que diz que é “melhor prevenir do que remediar”. Um juiz se dá o direito de bloquear a comunicação de todos para supostamente conter o tráfico de drogas de uma região do interior. As drogas são um grande problema social e merecem ações severas. O país sofre por causa da impunidade dos bandidos. Mas se punir os traficantes é uma falácia, punir a população é uma realidade em pleno acontecimento. Ainda que o WhatsApp fosse a única ferramenta de comunicação do mundo, o seu bloqueio nada fere a causa das drogas.

Faz pouco tempo, meu filho de 11 anos perguntou o significado da expressão “A ficha não caiu“. Tentei explicar que durante muito tempo pagávamos as ligações dos telefones públicos com fichas metálicas e às vezes os aparelhos falhavam. Os orelhões não consumiam essas “moedas serrilhadas” e a ligação não completava. Ele seguiu sem entender. Fez a mesma pergunta para o grupo de WhatsApp da família e dos amigos. Difícil para alguém que nasceu touch screen entender um aparelho tão rudimentar.

Acho que a pessoa mais indicada para explicar a expressão é o juiz Marcel Montalvão, de Lagarto, em Sergipe. Parece que lá a ficha ainda não caiu. Ou melhor, caiu. Mas somente ele continua utilizando fichas para comunicação.

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