Nas eleições para a seção paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil, realizadas em 17 de novembro de 2009, eu estava reunido com diversos colegas, também candidatos na chapa liderada por José Lucio Glomb, quando se aproximou de nós o eleitor de inscrição n.º 844. Ele ostentava, na lapela, o botton da XI de Agosto, a nossa legenda. Amigo de muitos anos, pai dos queridos Emílio e Suzi, meus contemporâneos do Colégio Estadual do Paraná, ali estava Zola Florenzano, em essência e circunstância, comparecendo para votar. "Estou escrevendo mais um livro", disse-me com a alegria de um adolescente. Após sair da cabine, ele concedeu uma pequena coletiva. Quando uma repórter perguntou-lhe se a sua idade era realmente 97 anos, ele respondeu, na bucha: "Por enquanto".
Assim foi e assim continua sendo na boa memória esse notável humanista que, ao completar um século de existência, publicou o primeiro volume de Socialismo Científico, um alentado ensaio com quase mil páginas, considerado a primeira fase da criação e desenvolvimento do materialismo dialético marxista em sua fase de ascensão histórica. A dedicatória, aos vivos e aos mortos presentes em saudade e amor foi estendida "a todos que sofreram ou morreram na luta pelo socialismo, pela democracia e pela liberdade".
Entre as homenagens recebidas como militar da Aeronáutica, há destaque para a sua participação na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), referida pelo diploma da Army Air Forces Training Command, Technical School (1944).
Zola Florenzano, em seu mundo brilhante de realidade e fantasia, jamais ocultou ou desertou de suas convicções sociais, políticas e filosóficas, o que lhe valeu a perseguição durante a ditadura dos governos militares, quando foi preso e teve cassada a sua patente de oficial da Força Aérea Brasileira. Mas a anistia restituiu seus direitos civis, dando-lhe o acesso ao posto de brigadeiro. Como ser humano de múltiplas camadas, ele foi agraciado, em 1970, com um prêmio concedido pela Associação dos Diretores das Empresas de Crédito, Investimento e Financiamento (Adecif), pela série de artigos, publicados no Jornal do Brasil, sobre o mercado brasileiro de capitais e financeiro. Paradoxalmente, a homenagem lhe foi pessoalmente entregue pelo ministro Delfim Netto, artífice do chamado "milagre brasileiro" dos anos 70.
No livro que escreveu em homenagem póstuma ao notável jornalista Emílio Zola Florenzano (1936-1991), ele afirmou a sobrevida espiritual do filho, negando à morte o poder da separação. O registro do prenome invocou a resistência heroica do romancista Émile Zola (1840-1902), em defesa do capitão Alfred Dreyfus (1859-1935), vítima de erro judiciário de um tribunal militar, quando, em antológica carta ("Jaccuse") publicada no jornal Laurore em 13 de janeiro de 1898, denunciou o affaire como "o mais absurdo dos folhetins policiais".
A memória da obra ideológica de Florenzano que também se chamava Zola evoca o amor e a história de dois militantes do Partido Comunista Francês: Yves Montand (1921-1991) e Simone Signoret (1921-1985). Marido e mulher durante a vida, eles estão imortalizados na lápide do túmulo comum no cemitério Père-Lachaise, em Paris, com estas palavras: "Le temps passe; les souvenirs restent" ("O tempo passa; as lembranças ficam").
René Ariel Dotti, advogado, é professor titular de Direito Penal e membro da Academia Paranaense de Letras.
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