O filósofo vienense Ludwig Wittgenstein nutria a firme convicção de que a arte era um meio possível de encontrar a solução para os diversos conflitos que cercavam a vida humana. De acordo com ele, a arte em geral poderia conduzir a vida a um fim positivo, no sentido de uma satisfação ou uma liberdade. A liberdade e a paz resultantes da música e do poema não são um estado meramente psicológico, mas um sentimento de admiração e de respeito para com a linguagem poética e a expressão musical. É assim com a atividade estética, assim deve ser com a atividade filosófica.
Ao aplicar o modo eficaz de investigação estética na investigação filosófica, o resultado será a cura da doença da qual muito tempo padece a própria filosofia. Trata-se da pretensão wittgensteiniana de "terminar" com a filosofia, de encontrar as terapias adequadas para solucionar a enfermidade, para dissolver todos os problemas (filosóficos e existenciais) que afligem os filósofos.
Existem diversas terapias e, ao fazer uso da terapia adequada, o resultado será a superação dos problemas consequentemente, a tão desejada paz filosófica será alcançada. Trata-se do regresso ao cotidiano, onde a vida de fato acontece; trata-se da redescoberta das palavras e do seu devido uso, o qual Wittgenstein compara com a imagem de um homem que estava perdido e reencontra o caminho de retorno a casa.
É no cotidiano, na dimensão mais ordinária da vida, entendido como lugar onde as experiências ocorrem, que se encontra a solução para os problemas existenciais e filosóficos, e por isso Wittgenstein afirma em Cultura e Valor que a filosofia não pode ser uma ciência, mas ela é como a arquitetura e só deveria ser poesia. Os problemas de filosofia nascem justamente com o espanto dos filósofos diante do esplendor da vida, e isso teoria nenhuma é capaz de curar.
Para concluir, Wittgenstein recorda que, em se tratando de filosofia, a paz nunca será duradoura e, novamente, a atividade filosófica deve ser retomada. Desse modo podemos considerar que acabar com a filosofia é impossível, simplesmente porque é impossível acabar com os fenômenos que tocam a vida humana. A filosofia nasce desse embate entre a vida, o espanto e o desejo de comunicar. Isso se aplica a todas as pessoas que pensam, observam e se assombram, mas particularmente aos filósofos, poetas e artistas. Existe, portanto, um sentimento humano que sempre se faz ouvir, o qual não é possível silenciar e, ao dar ouvidos a esse sentimento que inflama o homem, a atividade filosófica precisa ser retomada afinal, a filosofia é uma questão de sensibilidade, assim como a arte.
Edimar Brígido, escritor e professor universitário, é mestre e doutorando em Filosofia pela PUCPR.
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