Crédito! Muitas pessoas preocupam-se em tê-lo, mas quais são as consequências do crédito facilitado em longo prazo? Para responder a essa pergunta precisamos, primeiro, analisar alguns fatores, entre eles o hábito, a necessidade imediata do brasileiro em consumir e os incentivos ao consumo.

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O brasileiro, por natureza, é um consumidor nato; não mede esforços para conquistar os seus sonhos de consumo. Grande parte da população consome de forma compulsiva, entendendo que o que vale é o preço baixo e a oportunidade da compra. Mas, como a impossibilidade de fazer compras à vista pode retardar a conquista imediata, é necessário um "motivo" que justifique a compra – como uma liquidação, um incentivo fiscal ou uma promoção.

Atrelado a esta questão temos o fato de que a economia não pode arrefecer, sob pena de comprometer a estabilidade alcançada a duras penas. Hoje, um dos fatores de preocupação é a crise que atinge a Europa e pode chegar aos países emergentes. Por isso, o governo entendeu como necessárias algumas medidas para que a economia interna não arrefeça, como incentivar o consumo e o investimento através de subsídios fiscais e reduzir a taxa básica de juros, a Selic.

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Com a redução dos juros e incentivos fiscais, o cenário se torna propício ao consumo; um prato cheio para quem estava esperando o "motivo certo" para iniciar seus gastos com a consciência tranquila. Mas o que isso pode acarretar no longo prazo?

Segundo pesquisa da Fecomércio em maio, a redução da taxa de juros não atingiu um dos principais meios de pagamento dos consumidores brasileiros: o crédito rotativo. Esta modalidade apresenta uma taxa média de juros de 10,69% ao mês, que corresponde a absurdos 238,30% ao ano. Com o crédito facilitado e alta taxa de juros, vislumbra-se um cenário preocupante para o futuro, tendo em vista que o maior problema não é o preço dos produtos, mas a taxa de juros abusiva cobrada para financiar a compra.

É importante salientarmos que, caso ocorra algum problema que afete a estabilidade econômica, com a possibilidade de volta da inflação a patamares mais altos, é possível que o governo precise tomar medidas mais duras, que podem, inclusive, criar um quadro recessivo na economia. Em uma situação desta, com um alto endividamento das pessoas, a primeira atitude é o não pagamento das contas consideradas supérfluas, incluindo aquelas provenientes da realização do "sonho". A pesquisa do Fecomércio mostrou ainda que 53,2% das famílias paulistanas possuem algum tipo de dívida, e que este é o maior nível de endividamento neste ano. O número de famílias com contas em atraso é da ordem de 21,5%, número considerado elevado.

Caso não haja cautela por parte dos consumidores, o nível de inadimplência poderá aumentar, comprometendo sobremaneira, no longo prazo, o equilíbrio financeiro das famílias das classes B, C, D e E, as mais atingidas em caso de problemas na economia. Logo, o aconselhável é a compra consciente. Pergunte-se: preciso realizar esta compra agora? Tenho dinheiro para pagar à vista? Qual o custo financeiro advindo desta compra? Se for necessário e urgente, posso comprar à vista com desconto? Vale a pena pensar!

Amilton Dalledone Filho, matemático e mestre em Administração de Empresas, é professor dos cursos de graduação e pós-graduação da FAE-Centro Universitário.

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