A retração de 1,2% no PIB apurado no terceiro trimestre, com perdas severas para a agricultura e indústria, além de índice zero no setor serviços, sinaliza uma expansão do conjunto econômico em modestos 2,2% no ano. As razões desse resultado vão desde causas externas como a estiagem agrícola e a febre aftosa que afetaram o setor agropecuário até os desdobramentos da crise política; mas a responsabilidade principal recai sobre a condução da política econômica, em especial seu aspecto monetário.
É que os dirigentes da área, principalmente no Banco Central, buscando sustentar a taxa de inflação mais baixa possível, insistiram em um conservadorismo monetário que manteve os juros básicos em um patamar de 20% ano, com o resultado de juros reais acima de 13% e distorções generalizadas sobre a economia. Em suma, "erraram a mão", aplicando uma dose de contenção superior à recomendada pelo bom senso, com efeitos secundários danosos para o conjunto da economia como seguidamente advertiram líderes empresariais, economistas de fora do governo e até membros da coalizão governante.
Para explicar os erros na condução da economia nacional um comentarista recorreu à culinária: o bom chefe de cozinha é aquele que sabe temperar uma receita com a prática advinda da experiência, dosando os componentes e o preparo do alimento de forma a obter o melhor resultado em termos de cozimento, sabor, etc. Outros comparam a gestão monetária à habilidade de um regente de orquestra, capaz de extrair sons harmoniosos de um conjunto de músicos a manejarem instrumentos de feitio diferente.
Por isso o veterano Allan Greenspan que está deixando a presidência do Sistema de Reserva Federal, o banco central dos Estados Unidos ganhou o apelido de "maestro". Ali, durante quase duas décadas ele aplicou uma política equilibrada, temperando a busca de estabilidade na inflação com o crescimento do emprego e da renda. Entre nós a gestão monetária guarda padrão rudimentar repetindo queixa pública feita por uma das ministras do governo: o comitê decisor formado por gestores de finanças deve satisfação apenas a um restrito órgão ministerial, cuja única meta publicada é o controle da inflação.
Tal estrutura "rudimentar" não é só a nossa: os europeus estão preocupados com o seu Banco Central criado pelo Acordo de Maastritch, cujo conservadorismo radical é apontado como responsável em parte pela estagnação do velho continente. Aqui, até o geralmente cauteloso FMI se declarou decepcionado com o ritmo do PIB brasileiro, distante das economias emergentes (expansão média de 6% no ano). Mas a notícia da perda trimestral não deve ser vista como definitiva: além de as taxas anuais continuarem positivas aproveitando o ciclo de alta no preço de "commodities" o histórico brasileiro é de avanço. Não obstante, advertem os analistas, para igualar as taxas de crescimento de países asiáticos será necessária outra onda de reformas.